segunda-feira, 18 de junho de 2007

Ele voltará?


O porte atlético e a postura impetuosa deram lugar a uma suposta maturidade minuciosamente ensaiada. O ritmo da voz continua o mesmo: didática e arrogante, características de sua personalidade autocrática.
Seus gestos são comedidos, sincronizados com frases de efeitos pausadamente pronunciadas. Seu olhar está sempre além da platéia, contemplando o horizonte, como se vislumbrasse um futuro que só ele é capaz de enxergar.
Conectado com o que há de mais premente na pauta da sociedade civil – reforma política-, Fernando Collor de Melo se esmera em se tornar palatável ao gosto político do eleitorado brasileiro.
Seus argumentos em prol do parlamentarismo e de uma profunda reforma política são apresentados com o lastro de modernidade, contemporaneidade e atualidade. Palavras de forte apelo positivo no imaginário ocidental.
No brilhante livro da professora Olga Tavares, intitulado Fernando Collor: O discurso Messiânico, O Clamor do Sagrado (Annablune, 1998), a produção discursiva do presidente Collor é dissecada com minúcia de análise.
Através da leitura do seu texto, percebemos que Collor, como poucos políticos brasileiros, incorporou elementos messiânicos e religiosos, encarnando – num momento de grave crise política e econômica do País-, a figura do redentor, aquele líder carismático, que iria nos redimir de todas as mazelas sociais.
Em 1989, a candidatura de Fernando Collor a Presidente da República, nasceu como uma alternativa fora do cenário político tradicional. Embalado por uma forte campanha midiática, apresentando-se como um jovem intrépido que iria “pôr um fim a corrupção” e “moralizar o serviço público” ao mesmo tempo em que acusava nossa elite de inepta, Collor propagou a alcunha de “Caçador de Marajás”, alusão aos ricos servidores públicos que estavam sendo denunciados pelos meios de comunicação.
Desde 1961 que o Brasil não escolhia o Presidente da República de forma direta e democrática. Os 21 anos de ditadura militar (1964-85), fizeram com que o exercício democrático da livre escolha ficasse obstaculizado pelas práticas autoritárias dos civis e militares quer integravam o bloco no poder.
Com o processo de redemocratização, tivemos o primeiro presidente civil em duas décadas: Tancredo Neves que, escolhido indiretamente no Congresso Nacional, morreu sem tomar posse, causando um trauma político inigualável. Seu sucessor, José Sarney, era um senador que havia apoiado o Regime Militar e, com a morte de Tancredo, herdou um país economicamente falido e politicamente frustrado.
Durante o Governo Sarney (1985-90), a corrupção generalizou-se, conspurcando a máquina pública. Enquanto isso, a inflação atingiu patamares nunca antes vistos na história do Brasil.
A sociedade brasileira sofreu um embuste em 1986, quando foi decretado o Plano Cruzado, cuja principal medida foi tabelar tarifas. Com os preços garroteados pelo governo, a popularidade de Sarney alcançou a espantosa cifra de 98%, aprovação nunca antes experimentada por qualquer presidente.
Mas o “paraíso econômico” durou pouco. Logo após as eleições para governador, quando o PMDB ganhou em todos estados, o controle de preços foi suspenso e a inflação retornou com força redobrada.
Com a queda de popularidade de José Sarney, Collor rompeu com o presidente e foi o único governador a defender um mandato presidencial de 4 anos. Sempre atento aos humores populares, Collor percebeu o desgaste que o PMDB enfrentava e saiu do partido, filiando-se no irrisório PJ (Partido da Juventude) para, logo em seguida, fundar o PRN (Partido da reconstrução Nacional), pelo qual se lançou candidato e venceu Lula no segundo turno, pois conseguiu demonizar o candidato do Partido dos Trabalhadores e aglutinar em torno de si os setores mais conservadores da sociedade.
Seu governo foi um fiasco. Prometendo combater a corrupção, demitiu milhares de funcionários públicos federais. Anunciando a modernização da economia, abriu o mercado brasileiro com tal velocidade que quebrou muitas empresas nacionais, aumentando o desemprego.
Iniciou o processo de privatizações que esfacelou núcleos estratégicos da economia. Almejando debelar a inflação, confiscou a poupança de milhões de brasileiros. Seu governo foi engolfado em denúncias de corrupção e terminou de maneira lúgubre: Fernando Collor de Melo sofreu o Impeachment em 2 de outubro de 1992.
Seu discurso atual aponta para temas extremamente relevantes para tonificar o sistema político brasileiro: profunda reforma política e defesa do parlamentarismo,. Mais uma vez Fernando Collor está à frente dos acontecimentos, dando vazão aos anseios reformistas.
Esperamos que sua aparente maturidade não seja mais uma estratégia de marketing político com o propósito de alcançar a presidência da República em 2010. Ou quem sabe 2014... Ou 2018...

P.S. Artigo do PROF. Lúcio Flávio Vasconcelos

Mestre e Dr. em História pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Departamento de História da UFPB. Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Atualmente é Diretor do CCHLA da UFPB

FONTE: http://www.wscom.com.br/interna.jsp?pagina=coluna&id=5529&colunista=80

terça-feira, 5 de junho de 2007

FORTALEZA DE SANTA CATARINA - AULA DE CAMPO


A Fortaleza de Santa Catarina está localizada em Cabedelo, e representa o testemunho das lutas de libertação do país contra as grandes expedições dos invasores.Neste forte, o herói André Vidal de Negreiros repeliu os holandeses ao término de uma série de batalhas memoráveis que se inscrevem nos compêndios de história brasileiros e europeus, de significado decisivo na luta pela defesa das riquezas do nosso território.
É um monumento em pedra, construído no século XVI, que conta parte de nossa história. Tomada pelos holandeses em 1637, a fortaleza foi recuperada pelos portugueses em 1645 e desde esse tempo ergue-se como uma sentinela em defesa de nossas costas; foi palco de passagens memoráveis, tendo inclusive recebido o Imperador D. Pedro II quando de sua visita a João Pessoa. Nos dias de hoje, a fortaleza é o retrato vivo das grandes construções militares do passado, inclusive com relação às armas. Restaurada e preservada, é atualmente um dos mais ativos memoriais e centros culturais paraibanos. Sua localização é um verdadeiro convite para se ver de perto toda a beleza natural do lugar.

http://www.pbnet.com.br/openline/mfarias/fortal.htm


Queridos alunos o passeio foi ótimo.
Beijo a todos e até a próxima.





segunda-feira, 4 de junho de 2007

VESTIBULAR UEPB


INSCRIÇÕES DE 04 Á 22 DE MAIO DE 2007

MANUAL DO CANDIDATO
http://www.uepbcomvest.inf.br/concursos/vestibulares/vest2008/manual.pdf

ANEXO
http://www.uepbcomvest.inf.br/concursos/vestibulares/vest2008/anexoedital.pdf

EDITAL
http://www.uepbcomvest.inf.br/concursos/vestibulares/vest2008/anexoedital.pdf

LISTA DE LIVROS
http://www.uepbcomvest.inf.br/concursos/vestibulares/vest2008/obras.pdf

CASO QUEIRA SE ANIMAR OBSERVE AS ÚLTIMAS MÉDIAS
http://www.uepbcomvest.inf.br/concursos/vestibulares/vest2008/medias.pdf

Chaves x RCTV

Hugo Chávez diz que rede RCTV criou ditadura na mídia. Proprietário de canal diz que governo entra em etapa de totalitarismo.

À meia-noite de domingo será extinto o sinal de um dos canais de televisão mais antigos da América Latina, RCTV - uma decisão polêmica que apresenta diferentes interpretações. O presidente Hugo Chávez a considera o fim de uma ditadura na mídia, enquanto que o proprietário do canal a entende como o início do totalitarismo na Venezuela.À meia-noite de domingo será extinto o sinal de um dos canais de televisão mais antigos da América Latina, RCTV - uma decisão polêmica que apresenta diferentes interpretações.O presidente Hugo Chávez a considera o fim de uma ditadura na mídia, enquanto que o proprietário do canal a entende como o início do totalitarismo na Venezuela. A Venevisión adotou uma linha editorial neutra a partir de 2005. A RCTV será substituída pela TVes, uma televisão montada nas últimas semanas pelo ministro de Comunicação que será de "serviço público" e seu conteúdo ficará a cargo de produtores independentes. A Venezuela ficará então com quatro televisões de alcance nacional em televisão aberta (VHF): a estatal Venezoelana de Televisión identificada com o chavismo, a nova TVes, e as privadas Venevisión e Televen. A única televisão de oposição que resta é a Globovisión, um canal só de informação que transmite em uma freqüência de menor alcance (UHF) em Caracas e na terceira cidade do país, Valencia, e por TV a cabo. Chacón afirmou que a RCTV poderia passar a ser transmitida por cabo, embora não tenha sido formulada ainda uma solicitação para isto.

Outro dia ouvi no rádio que o presidente Lula não se posiciona diretamente no conflito por dois motivos:

  • Por termer Chaves;
  • Por simpatizar com as idéias do sucessor de Fidel;
Aguardemos o desnrrolar desse conflito, certamente iremos nos surpeender.
Amigo leitor, caso não saiba, Lula tem a obrigação moral de posicionar por diversos motivos:

  • O Brasil é o líder da América Latina;
  • A União Européia lançou uma nota de repúdio;
  • Poxa, até o CONGRESSO NACIONAL, que não é lá um grande exemplo de idoneidade se posicionou...
  • E antes que eu não me esqueça, quem é a liderança do Mercosul? Opa!
    • Será o Brasil?
É uma pena, o presidente LULA me faz lembrar a campanha de 2006, em que um determinado candidato demonstrava que a cadeira presidencial está vazia. Espero que não estejamos caminhando numa estrada de retrocesso.

Uma ótima semana a todos.

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL41592-5602,00.html

sábado, 2 de junho de 2007

O cidadão que cheirava a rei - "Um Habsburgo perdido nos trópicos"

Perfis mostram Pedro II interessado mais na essência do que na aparência do poder

Quando um figurão da República afirmou que seu partido queria ficar 20 anos no poder (frase, aliás, repetida por outro figurão, hoje no poder), o Brasil arrepiou-se. Realmente, duas décadas de mando é demasiado. O Brasil, porém, já teve um governante que se manteve à frente do Estado por 49 anos, 3 meses e 22 dias. “Pela longevidade do governo e pelas transformações efetuadas em seu transcurso, nenhum outro chefe de Estado marcou mais profundamente a história do país”, afirma o historiador José Murilo de Carvalho, que acaba de lançar um perfil de dom Pedro II (1825-1891). A sua capacidade de se manter no cargo é, infelizmente, proporcional à ignorância, acadêmica e popular, que se tem sobre o seu reinado. Há alguns anos, quando ambos adornavam cédulas de dinheiro, era comum (ainda é), em face das barbas brancas do filho, quem visse em Pedro II o pai de Pedro I. “No Brasil do século XXI, Pedro II está em toda parte e em parte alguma. Para a maioria, ele não foi um ser real, um governante cujas ações, para o bem ou para o mal, forjaram a nação moderna brasileira. Suas realizações e suas limitações foram totalmente esquecidas”, observa o brasilianista Roderick Barman, da Universidade de Columbia, autor de outro perfil do monarca, Citizen emperor (a ser traduzido, em 2008, pela Unesp), e que acaba de terminar Brazil: the Burdens of Nationhood, 1852-1910, estudo sobre o peso do Segundo Reinado na consolidação nacional. “A monarquia garantiu a unidade do país, que periclitou durante a Regência, quando governos rebeldes declararam a independência de três províncias. Ela foi uma escola de práticas políticas civilizadas, sobretudo se a compararmos com as repúblicas vizinhas. Mas foi muito lenta na introdução de políticas sociais, como a abolição da escravidão e da educação popular, e foi emperrada em algumas reformas políticas, como a descentralização política e a expansão do voto”, explica Carvalho. Quem foi seu idealizador?
Nem “Pedro Banana”, epíteto criado pelos republicanos, nem o monarca iluminado, o bom velhinho, imagem cultivada por monarquistas de ontem e de hoje. Apesar disso, deixou marcas profundas. “Os sucessos de Pedro II, a criação de uma cultura política e de um ideal de cidadania, não apenas sobreviveram à sua queda, em 1889, como se mantiveram como normas e diretivas da vida pública nos regimes seguintes (a República Velha, a Era Vargas e a República Liberal). Mesmo o regime militar, de 1964, foi profundamente influenciado pela sua visão do Brasil como nação-Estado. Apenas nos anos 1980 é que isso foi deixado de lado”, diz Barman. Pedro II reinou, governou, administrou e mandou por cinco décadas. “Por conseqüência, sem a elite compreendendo/apreciando o que ele fazia, moldava pela prática diária e pelo exemplo as expectativas da elite e do povo sobre a conduta do chefe de Estado, o estilo do processo político brasileiro. Mesmo após a televisão, essas expectativas perduram. Quem duvida disso compare a aparência e o programa do Lula candidato em 1992 e o novo, de 2002 e 2006. O jovem radical transformou-se fac-símile do segundo imperador.”
Barman nota uma incômoda insistência brasileira, com Pedro II e outros “monarcas” republicanos, de ressaltar que “ele não parece brasileiro, parece estrangeiro”, ou, como nota Carvalho, no caso do imperador, “um Habsburgo perdido nos trópicos, louro, olhos azuis, num país de pequena elite branca cercada por um mar de negros e mestiços”. “É quase como um não querer/poder aceitar que se pode ser um bom chefe de governo e ao mesmo tempo um típico brasileiro.” Assim, a admiração algo tupiniquim pela cultura do monarca, que parecia saber tudo. “Já sei, já sei! Sabe tudo o sábio por excelência. Sabe mais do que a ciência e mais do que a lei. O Padre Eterno, invejoso de uma tal ciência infusa, Lhe disse, a juízo de escusa: ‘Dom Pedro, me sucedei! Eu vos entrego o universo!’ Mas o sábio, firme, respondeu-lhe com desprezo: ‘Já sei, já sei!”, dizia um poema da época sobre como Pedro II reagia quando lhe tentavam informar algo.
Engana-se quem vê no imperador, quase sem pompas e que usava casaca, um homem desligado do poder. “O que ele desejava era a essência, e não as aparências do poder. Acima de tudo, ele queria ter o controle. O trauma de sua juventude (órfão de mãe com 1 ano, de pai aos 9, imperador aos 14 anos) atribulada deixou nele o pavor de ser tutelado”, nota Barman. “Perder o controle, para ele, significava ser manipulado. A intensidade do desejo de Pedro II por controlar tudo e todos foi mascarada por um afastamento das luzes da ribalta, pela autodisciplina. Assim, era fácil subestimar o homem, a amplidão de sua autoridade. Ele sempre igualou o regime e o país à sua pessoa.” Carvalho nota, porém, que dom Pedro não tinha apetite pela política como jogo de poder. “Não calculava custos e benefícios políticos de suas ações e não planejava o futuro de seu reinado. Não o elogio como governante, mas como um homem de grande espírito público. Ele não odiava o poder, exercia-o de forma ciumenta, mas cumprindo uma obrigação de sua posição de imperador.”
Segundo Barman, o controle absoluto dos assuntos de Estado foi usado para “conservar e aperfeiçoar a sociedade”, não para refazê-la. Pedro II tinha notável capacidade de deixar os problemas se resolverem por si, no que o ajudava o Poder Moderador. “Preocupava-se menos em promover ações que almejava do que impedir que outros conseguissem implementar políticas que não desejava.” Se o imperador gabava-se de sua condição de cidadão, este nunca deixou de ser imperador. “Pedro II nunca se perguntou se os brasileiros queriam que ele fosse o ‘primeiro cidadão’, tampouco se eles desejavam o tipo de progresso e civilização, à francesa, que ele queria para a SUA nação”, nota o americano. Nas palavras de um contemporâneo, “apesar da simpatia, há nele um odor de rei, que acredita ser superior aos outros”. Assim, seus “assessores” não eram pessoas, mas livros, em especial as monografias francesas. “Foi respeitado por quase todos, mas não foi amado por quase ninguém”, nota Carvalho.
Perdeu a grande chance de libertar os escravos antes de 1888, pelas mãos da filha, vista, então, pela elite e pelo povo como a “beata”, a casada com “o francês”, uma inábil para sucedê-lo. Desde os anos 1850, o mercado escravista declinava e a elite brasileira percebia que a escravidão tinha dias contados. “Pedro II compartilhava essa visão e, como bom civilizado, não aprovava o cativeiro. Mas uma coisa era o imperador deixar escapar suas visões sobre o futuro da escravatura para o seu gabinete e, outra, mexer com os políticos para que tomassem uma atitude. Ele gostava de se imaginar incapacitado para iniciar a mudança”, diz Barman. Com o fim da Guerra da Secessão americana, o Brasil seria o único país do hemisfério ocidental com escravos. Isso não condizia com seu sucesso de monarca esclarecido junto aos contemporâneos europeus. “Mas quem estuda a batalha pelo Ventre Livre não pode dizer que sua postura era apenas intelectual. Ele pagou um alto preço por isso. Quando reduziu seu impulso abolicionista, o dano para a dinastia estava feito”, ressalva José Murilo.
A condução da Guerra do Paraguai, outra questão polêmica, igualmente leva a marca do monarca “que se achava o Brasil”. “Na guerra, o Brasil lutou contra o inimigo errado e isso sem dúvida graças à megalomania de López. As justificativas do imperador para continuar a luta até a expulsão de López sempre foram a letra do Tratado da Tríplice Aliança e a defesa da honra do Brasil, mas não me parece que sejam suficientes. Sua insistência em não negociar ainda permanece um enigma”, observa Murilo. “Ele viu a agressão ao Brasil como uma afronta pessoal. ‘Fala-se de paz no Rio da Prata, mas EU não faço paz com López’, escreveu Pedro II para sua amante, a condessa de Barral. A insistência do imperador em exterminar López foi desmedida”, concorda Barman. Por fim, a República.

O republicanismo nasceu cedo por aqui, nos anos 1830, visto, porém, com desdém pela elite e com indiferença benevolente pelo imperador e, nota o brasilianista, dada a inabilidade do movimento se estabelecer após 1870, essa atitude não era de todo errada. A nova geração é que foi sua ruína: tendo como um dado a união do Brasil e seu status consolidado de nação-Estado, não receavam mais o colapso da ordem política. No entanto, até os anos finais do regime, a frase “O imperador meu augusto amo” era utilizada normalmente pelos brasileiros. “Em Pedro II as elites acharam alguém que suprimiu o fanatismo das massas, um monarca hábil que reuniu liberdade e ordem, paz interna e desenvolvimento do país (desde que sob sua estreita supervisão e sem excessos). Ele se tornou então uma parte natural da existência dos brasileiros.” Essa “casa em ordem” deu aos republicanos calma para crescer. “Dada a falta de um sucessor crível (Pedro II não via Isabel como tal), pela doença de que padecia o monarca, tudo parecia garantir uma transição para a República. O Brasil poderia, assim, ter suprimido de sua história o terrível militarismo iniciado em 1889”, nota Barman. “Mas suas realizações iniciais e sua recusa em ceder um pouco aos políticos, abrir o sistema, bem como sua negligência com os interesses do Exército, o levaram ao destronamento patético.” A imagem do grupo de nobres levados às pressas para o exílio pegou mais no imaginário nacional do que o poder exercido por meio século.Pedro II, que intelectualmente tendia à República, era, porém, um auto-centrado, confiante de que o mundo girava a seu redor. Embora percebesse a direção a que o Brasil se dirigia, insistiu em manter o estado das coisas, o eterno engano dos monarcas desde que os ingleses cortaram o pescoço de seu rei no século XVII. O ponto fraco do Império foi justamente essa confiança na centralização exacerbada, o desejo de controlar pessoalmente tudo. “A vida do Império só foi prolongada com a campanha abolicionista, que desviou a atenção para a fragilidade paradoxal de um regime tão consolidado.” Com o fim da monarquia, o Brasil amargou anos de ditadura militar, incluindo-se Canudos, ações de “um regime sem raízes seguras e quase sem legitimidade”, nota Barman, para quem o Brasil de hoje não tem suas origens em 1889, mas na primeira década do século XX. Foi Vargas, responsável pela derrubada do regime que derrubou o imperador, que trouxe Pedro II de volta à voga e seus restos mortais ao Brasil. “Para a maioria dos brasileiros há a crença de que seus antepassados foram inatamente republicanos e a monarquia foi uma imposição externa.” Estranha alienação da importância, boa ou má, de alguém que, seja como rei ou como “cidadão”, mandou no país por 50 anos.

FONTE: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3235&bd=1&pg=1&lg=