domingo, 22 de abril de 2007

Liberdade ainda que tardia...

TIRADENTES ( Joaquim José da Silva Xavier) (1746-1792), é considerado o grande mártir da independência do nosso país. Nasceu na Fazenda do Pombal, entre São José ( hoje Tiradentes) e São João del Rei, Minas Gerais. Seu pai era um pequeno fazendeiro. Tiradentes não fez estudos das primeiras letras de modo regular. Ficou órfão aos 11 anos; foi mascate, pesquisou minerais, foi médico prático. Tornou-se também conhecido, na sua época, na então capitania, por sua habilidade com que arrancava e colocava novos dentes feitos por ele mesmo, com grande arte. Sobre sua vida militar, sabe-se que pertenceu ao Regimento de Dragões de Minas Gerais. Ficou no posto de alferes, comandando uma patrulha de ronda do mato, prendendo ladrões e assassinos. Tiradentes foi enforcado a 21 de abril de 1792, no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, arrasaram a casa em que morava e declararam infames os seus descendentes.

Um Sonho, Uma esperança, Uma Realidade


Brasília é a capital da República Federativa do Brasil, localizada no território do Distrito Federal. Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, sendo a terceira capital do Brasil.
Desde a primeira constituição republicana já constava um dispositivo que previa a mudança da Capital Federal do Rio de Janeiro para o interior do país. No ano de 1891, foi nomeada a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, liderada pelo astrônomo Luiz Cruls e integrada por médicos, geólogos e botânicos, que fizeram um levantamento sobre topografia, o clima, a geologia, a flora, a fauna e os recursos materiais da região do Planalto Central. A área ficou conhecida como Quadrilátero Cruls e foi apresentada em 1894 ao Governo Republicano.
Em
1922 uma comissão do Governo Federal estabelece a localização no cerrado goiano, mas o projeto fica engavetado. Apenas em 1955, durante um comício, o então candidato à presidência Juscelino Kubitschek afirmou que iria transferir a capital. Eleito presidente, Juscelino estabeleceu a construção de Brasília como meta-síntese de seu Plano de Metas.
O traçado de ruas de Brasília obedece ao plano piloto implantado pela empresa
Novacap a partir de um anteprojeto do arquiteto Lucio Costa, escolhido através de concurso público. O arquiteto Oscar Niemeyer projetou os principais prédios públicos da cidade. Apesar de a cidade ter sido construída em tempo recorde, a transferência efetiva da infra-estrutura governamental só ocorreu durante os governos militares, já na década de 70.

sábado, 21 de abril de 2007

Morre Tancredo Neves (21/04/1985)

Há exatos 22 anos, morria o presidente Tancredo Neves. Ele passou mal no dia da posse e ficou 37 dias internado até a morte, por infecção generalizada, num drama que o Brasil inteiro acompanhou.
Após um período negro e violento na História do Brasil, foi eleito o primeiro presidente civil em mais de 20 anos. A ansiedade de todo o país pela sua posse e por uma reorganização da sociedade, ainda amedrontada pelo regime militar, era nítida. Apesar de indireta a eleição de Tancredo foi recebida com grande entusiasmo pela maioria dos brasileiros. No entanto, Tancredo não chegou a assumir a Presidência. Na véspera da posse foi internado no Hospital de Base, em Brasília, com fortes dores abdominais e José Sarney toma seu lugar interinamente no dia seguinte, em 15 de março de 1985. Depois de sete cirurgias, veio a falecer em 21 de Abril, aos 75 anos de idade, vítima de infecção generalizada. Deu-se uma comoção nacional, tantas as esperanças que haviam sido depositadas em Tancredo. Em 22 de abril, Sarney foi investido oficialmente no cargo. Governou até 1990, um ano a mais que o previsto na carta-compromisso da Aliança Democrática, pela qual chegou ao poder.


sexta-feira, 20 de abril de 2007

Um Índio Caetano Veloso


Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante


Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias


Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá


Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico

Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito


E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio


http://www.youtube.com/watch?v=2z5Vz9vntVY

quinta-feira, 19 de abril de 2007

O dia em que Hitler chorou


O século XX teve ditadores para todos os gostos: Stalin, Mao, Mussolini, Pol Pot, Franco, Pinochet. Mas, no inferno, todos devem se roer de inveja do colega que, cada vez mais, “conquista” os corações do público: Adolf Hitler. Quanto mais o tempo passa, mais cresce o fascínio da Alemanha nazista, que se transformou num negócio milionário. Vá a uma livraria, banca de jornais ou locadora de filmes e, para o seu lazer, em capas de livros, revistas e DVDs estão o Führer, tropas marchando e, um best-seller, a suástica. Acabam mesmo de descobrir Adolf escondidinho atrás de Ringo Starr na célebre capa do álbum dos Beatles, Sgt. Pepper’s. Ainda que fascínio e repulsa possam andar juntos, o que ajudaria a entender a admiração macabra pela estética do poder e do mal absolutos, é um fenômeno digno de psiquiatras. Como, aliás, foi o ícone dessa estranha obsessão, o próprio Hitler.
“Tal como Joana d’Arc, ele foi um produto de suas próprias fantasias e levado por elas na multidão sequiosa de revanche. Se anjo ou diabo, é o juízo da história que decide”, explica o bioquímico e psiquiatra da UFRJ Fernando Portela Câmara, em seu artigo O psiquiatra do Führer, em que relata a estada do então soldado Adolf num hospital militar, acometido de cegueira histérica. Atendido pelo dr. Edmund Forster, que estimulou seu nacionalismo fanático para fazê-lo recuperar a autoconfiança, “o homem tímido, com receio de falar em público, que nutria ódio pelos derrotistas, jesuítas e comunistas, teria saído deste hospital inteiramente mudado: olhar penetrante, gestos firmes, gosto de falar em público, carismático, enfim, com os traços de personalidade que iriam caracterizar o futuro Führer”.
O caso, pouco conhecido, colocou em questão se a cura não teria criado a doença. “Tal como o haxixe ou o álcool nada provoca que já não seja do próprio caráter e disposição do indivíduo, nenhuma hipnose ou sugestão muda ninguém. A psicoterapia pode reestruturar comportamentos, esclarecer motivações, atualizar tendências, mas não pode criar um novo ser”, avalia Portela. Interessado em entender melhor a terapia de Hitler, Wagner Gattaz, professor titular do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), encomendou para a Revista de Psiquiatria Clínica (do Departamento e Instituto de Psiquiatria da USP) artigos do psiquiatra britânico David Lewis, autor do livro The man who invented Hitler, e do psicanalista alemão Gerhard Kopf sobre o tema. O resultado é uma história recheada de suspense, que será contada a seguir, tendo como base os dois artigos.
Em outubro de 1918 o cabo Hitler, então com 29 anos, e um grupo de soldados foram atingidos, de surpresa, por uma nuvem de gás mostarda. Cegos, voltaram ao acampamento e, à exceção de Adolf, todos foram encaminhados a um hospital militar próximo para tratamento dos olhos. Hitler, porém, foi levado a Pasewalk, a 800 quilômetros do acontecido, pois os médicos acreditavam que sua cegueira era menos um trauma físico do que um colapso psicológico. “Não era o caso de que o cabo não pudesse ver, mas sim do que ele não queria ver. Estava sofrendo o que, na época, os médicos chamavam de transtorno histérico e, desde 1917, estabeleceu-se que tais casos deveriam ser tratados não em hospitais gerais, mas em clínicas afastadas para evitar o ‘contágio psíquico’”, observa Lewis. O ditador que tanto admiraria o rigor viu-se diante de médicos que tratavam esses distúrbios de guerra como “falta de vontade de sistemas nervosos inferiores, com cérebros degenerados”. Dentre o staff psiquiátrico, um deles se destacava por abraçar esse credo: Edmund Forster. “Sempre deixei claro para os pacientes com reações histéricas que aquilo se tratava de um mau hábito, um comportamento antipatriótico e degradante, indigno do soldado alemão”, escreveu. Seu método se resumia a fortalecer a vontade do combatente em retornar ao campo de batalha.
De início curado, ao saber da rendição alemã em novembro o cabo Adolf voltou a ficar cego. Forster foi ainda mais incisivo e o soldado, enfim, se viu recuperado. “Em Minha luta Hitler omite o nome deste médico e muito menos que foi tratado por um psiquiatra, ele diz ter sido ajudado por uma enfermeira de espírito maternal que lhe transmitiu palavras de incentivo que o curaram. Não podemos deixar de notar que esse ocultamento da figura do psiquiatra por uma figura materna é muito significativo aqui. Não podemos deixar de notar também que ele se refere especificamente a uma cura pela palavra”, nota Portela. Foram 24 dias de tratamento, que, acreditam os psicanalistas, teria transmutado o artista vagabundo no futuro ditador da Alemanha. Como foram essas sessões é um total mistério, pois, após ascender ao poder em 1933, todos os arquivos clínicos do caso desapareceram. Naquele ano Forster, antinazista, com a ajuda do irmão, encontrou-se em Paris com um grupo de intelectuais exilados, entre os quais Alfred Döblin (o autor de Berlin Alexanderplatz) e Ernst Weiss, um novelista checo amigo de Kafka, ambos com formação médica. O psiquiatra entregou a Weiss todo o dossiê sobre a cegueira do Führer.
Vigiado pelo governo francês, o escritor apenas em 1938 colocou o caso em palavras, ainda assim num romance à clef chamado A testemunha ocular, que fala do soldado A.H. tratado por um médico judeu no hospital militar de P., acometido de histeria. No livro, o paciente mais tarde se tornava o líder supremo da Alemanha. Na falta do prontuário original, Lewis acredita que várias passagens da obra descrevem como teria sido a terapia de Forster com Hitler. “Eu fui destinado a desempenhar um papel significativo na vida de um homem estranho, o qual, depois da Primeira Guerra Mundial, viria a provocar imenso sofrimento e mudanças radicais na Europa. Muitas vezes perguntei-me o que me teria levado, naquela época, no outono de 1918, a intervir daquela forma: se era curiosidade – a qualidade principal de um cientista trabalhando na área médica – ou o desejo de ser como um deus e mudar o destino de uma pessoa”, fala o narrador de Weiss, o médico judeu. “Ele não consegue libertar o paciente de suas ideologias políticas e do seu ódio, mas é bem-sucedido em restabelecer e inflar a sua autoconfiança, o que – do ponto de vista do médico – o faz co-responsável pela terrível carreira e ascensão de A.H.; esta é a interpretação do médico e o motivo para o seu desespero profundo”, observa Gerhard Köpf.
Ainda nas palavras de Weiss, numa sessão à noite, tendo apenas uma vela acesa, o psiquiatra, após examinar os olhos do paciente, lhe afirma que sua cegueira não tem cura dentro da medicina e em seguida a A.H. que ele poderá curar a si mesmo, despertando em seu interior forças espirituais curativas poderosas. Pede então ao paciente que se concentre na luz da vela enquanto o psiquiatra sussurra: “A Alemanha precisa de homens como você... A Áustria acabou... mas a Alemanha ainda persiste... para você tudo é possível! Deus irá ajudá-lo em sua missão se você ajudar a si mesmo agora”, e conclui com a sugestão: “Se você confiar cegamente nesta missão, sua cegueira desaparecerá!” Quando os alemães entraram em Paris, o escritor se matou, não sem antes avisar os amigos de que isso iria acontecer, deixando no ar a suspeita de um provável homicídio.
Na Alemanha, Forster foi expulso da Universidade de Greifswald, por conta de denúncias de “imoralidade e amor pelos judeus” feitas por um ex-aluno nazista. Dias depois o psiquiatra do Führer também se matou com um revólver que a família desconhecia que ele possuísse. Mais mistério. Outro médico, Karl Kroner, que endossara o diagnóstico de histeria do cabo Hitler, foi enviado a um campo de concentração, mas graças a um embaixador amigo de sua mulher fugiu para a Islândia. Lá, em 1943, deu um longo depoimento ao serviço secreto americano sobre Hitler, que acaba de ser liberado para o público pelos arquivos da CIA.
Acusando Adolf de simular a cegueira, Kroner disse frases proféticas sobre os tempos: “Em eras conturbadas, os psicopatas nos governam; nos tempos calmos, nós os investigamos. A cura de Hitler foi alcançada, mas a Alemanha cegou-se. Só espero que isso passe logo e possamos dissecar o psicopata e, com o retorno da justiça, fazer com que os alemães voltem a enxergar”. Um outro psiquiatra alemão, que não se arrependia de curar psicopatas, veio parar no Brasil e, sem querer, trouxe consigo o “ovo da serpente”. Um admirador das leis eugênicas da Alemanha nazista, Werner Kemper, diretor do Instituto Göring, fazia exceção ao tratamento de psicoses em caso de “uma personalidade genial excepcional que valeria a pena ser curada se houvesse a expectativa de que com isso seu talento extraordinário pudesse ser retribuído em proveito da totalidade”, escreveu em 1942. O que diria Forster se pudesse ler isso? Seja como for, após a guerra, Kemper veio ao Brasil indicado por ninguém menos do que Ernest Jones, o biógrafo e amigo de Freud. Aqui fundou a Sociedade Psicanalítica Brasileira. “A análise que vocês fazem no Rio de Janeiro foi feita por um homem da Gestapo”, afirmou o presidente da Associação Psicanalítica Internacional (IPA) a uma psiquiatra brasileira num congresso nos anos 1980.
Como a confirmar que o “ventre da besta continua fecundo”, palavras de Brecht, em 1973 descobriu-se que o psicanalista Amílcar Lobo Moreira da Silva era um torturador. Antes havia sido formado por Leão Cabernite, um analisando e discípulo de Kemper. “Kemper ao chegar ao Rio trazia a marca do regime nazista e as características de ‘homem único no poder’, como Hitler, e teria marcado como um Führer a psicanálise carioca. Como nunca falou sobre seu passado nazista, o não-dito foi passado inconscientemente aos seus analisandos e destes para os posteriores analisandos. Nesta terceira geração, a culpa teria ressurgido em forma de ação e se revelado na tortura”, escreveu a falecida psiquiatra Helena Besserman Vianna em seu livro Não conte. Curiosamente, Kemper teria participado, na Alemanha, por meio do seu instituto, como consultor das diretrizes da Wehrmacht sobre como tratar neuroses de guerra. “O objetivo dessas diretrizes era evitar reações psíquicas anormais, como as verificadas na Primeira Guerra Mundial, por causa do seu efeito contaminador que teria afetado a força de combate das tropas”, observa o brasilianista alemão, da Universidade de Kassel, Hans Füchtner em seu artigo O caso Kemper.
Segundo relata Füchtener, para os médicos do instituto, estados de medo geravam perda da fala, da audição, cegueira, paralisia, entre outros, que podiam afetar soldados sadios e capazes em dadas circunstâncias, o que tornava inviável uma “desvalorização moral e a difamação dos doentes de reações anormais”. Havia, observa Füchtener, um “racha” entre os membros do instituto de Kemper e outros neuropsiquiatras que defendiam os velhos métodos brutais da Primeira Guerra Mundial, como aos que Hitler fora submetido. Em consonância com instruções da chancelaria do Reich (lembranças amargas do Führer?), o instituto pedia métodos brandos para tratar os doentes. Mais tarde, as fileiras de chumbo ganharam a batalha e muitos doentes foram parar em campos de concentração, vistos como fracassados traidores.
Kemper e seus colegas se mantiveram fiéis ao seu trabalho mais humanizado e, embora defensor das Leis de Nuremberg, que defendiam a criação de uma “raça superior”, escreve Füchtener, o psiquiatra nunca se manifestou a favor da eutanásia e sempre preconizou que havia possibilidades de cura em várias etapas da psicose. O regime hitlerista preferiu outras correntes, ainda que, se tivessem sido aplicadas ao então cabo Hitler, teriam levado o futuro Führer à câmara de gás ou à injeção letal. “O médico deve limitar sua escolha às pessoas, cujas personalidades merecem um esforço. Justamente nisso surgem graves decisões humanas para o médico consciente de sua responsabilidade. Se para o biólogo especialista em genética é fácil decidir na maioria dos casos de doenças genéticas, para nós os limites são flutuantes”, escreveu Kemper em 1942.
PS: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3185&bd=1&pg=2&lg=



quarta-feira, 18 de abril de 2007

Eric Hobsbawm: Entrevista


Nascido em Alexandria (Egito) em 1917, o historiador Eric Hobsbawm, viveu nas cidades de Viena e de Berlim, antes de iniciar sua vida acadêmica em Londres. Considerado um dos mais importantes historiadores atuais, Hobsbawm, além de velho militante de esquerda, continua utilizando o método marxista para análise da história, sempre a partir do princípio da luta de classes, defendendo até hoje seu compromisso com o comunismo.
Sem Eric Hobsbawm, hoje com 83 anos, não haveria um retrato tão amplo da história dos séculos XIX e XX em seus diferentes aspectos, como o que foi retratado nos quatro livros que escreveu sobre o período.
Após analisar a história do Ocidente nos dois últimos séculos e de expor as tendências para o atual em O Novo Século (Companhia das Letras), lançado aqui em 2000, o historiador está escrevendo sua própria biografia .
Em entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo em 15 de fevereiro de 2001, Hobsbawm fala de seus trabalhos mais recentes, suas visões de história e das tendências do pensamento ocidental.

O historianet publica abaixo a íntegra dos principais trechos da entrevista concedida pelo historiador para o jornal Folha de São Paulo.

Folha - O senhor está escrevendo a história de sua vida, pode dizer algo sobre ela ?
Hobsbawm - Como dizia um grande amigo meu, Fernand Braudel ("O Mediterrâneo"), um historiador nunca está de folga. Tudo o que fazemos, de uma maneira ou de outra, está ligado a atividade de fazer história. Por isso posso dizer que esse livro não será apenas uma biografia íntima, e sim uma mistura disso com minha trajetória intelectual. Afinal, as pessoas não vivem apenas a sua vida privada.

Folha - O senhor fez livros abrangentes, que se preocuparam em fazer um amplo painel de grandes períodos. Concorda que hoje exista uma tendência oposta, que faz com que pesquisadores limitem seus estudos a problemáticas e períodos de tempos menores ?
Hobsbawm - Sim. Acho que a história feita em ambiente acadêmico tende, atualmente a ser mais especializada, por causa da maneira pela qual a profissão está estruturada. É preciso fazer pesquisa para alcançar uma determinada graduação, depois, mais pesquisa para fazer-se doutor, e assim por diante. O foco, então, tem de ser específico para obedecer a esse mecanismo.
Acredito que, hoje, mesmo para um historiador experiente, está cada vez mais difícil propor uma abordagem ampla de um período muito grande. Acho que meu caso é exceção. A maioria da história que é escrita hoje é mais pontual, mais especializada.

Folha - A culpa seria então das regras da universidade ?
Hobsbawm - Acho que as universidades têm responsabilidade. Ao formatarem a profissão dessa maneira, inibem análises amplas. A história mais geral tem sido escrita agora por muitas pessoas. É raro que só um autor o faça.

Folha - Acha que isso é positivo ?
Hobsbawn - Acho que é mais desejável que a história mais ampla seja feita de maneira individual, pois assim é mais fácil que o público comum a leia. Por outro lado, sem o trabalho dos especialistas é impossível para um autor sozinho fazer um bom trabalho que seja ao mesmo tempo abrangente e sintético, como o que eu venho tentando fazer.

Folha - Quando você começou, a vida acadêmica estava relacionada à vida política das pessoas. Acredita que isso fez com que parte importante da produção literária fosse bloqueada?
Hobsbawm - Num sentido mais amplo, não. Não existem muitos países que censuraram a história. Havia aqueles ligados à então União Soviética, onde era impossível escrever história a não ser que se tivesse determinadas opiniões. Em outros países, no geral, havia uma visão consensual sobre o capitalismo, mas sempre houve espaço para que outra visões servissem como reflexão e para que se publicasse sobre elas.
Meus livros, mesmo durante a Guerra Fria, foram muito bem recebidos nos EUA, nas universidades principalmente, mesmo sem corresponder às linhas políticas que ancoravam aquele governo. Devo dizer que, no mesmo período, eles não seriam publicados na União Soviética.

Folha - O senhor ainda não se aborreceu com a quantidade de entrevistadores que perguntam porque você ainda é comunista ?
Hobsbawm - Sempre tentei escrever história inspirado pelo marxismo, mas o valor dessa história não depende de meus pontos de vista. As pessoas sabem que minhas idéias são de esquerda, e, em alguns momentos, isso fez com que eu fosse mais popular. Em outros momentos, menos. O valor da minha história não está em atender as pessoas com minhas opiniões, mas em ser uma boa história e por isso ser aceita.

PS: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=277

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Israel pára por dois minutos em memória às vítimas do Holocausto


Israel parou nesta segunda-feira (16) por dois minutos para lembrar os seis milhões de vítimas do Holocausto, enquanto em colégios e centros culturais foram feitos atos em sua memória. No período, sirenes tocaram por todo o país.Às 10h (horário local) todas as atividades do país foram suspensas, os pedestres ficaram parados e os motoristas desceram de seus veículos ao escutar as sirenes, que só são ativadas em situações de alarme máximo, como a explosão de uma guerra.
Ao longo do dia, diversos atos e cerimônias nos cemitérios manterão vivas as lembranças dos seis milhões de judeus que perderam a vida nos guetos e campos de concentração do regime nazista entre 1939 e 1945, numa política destinada a pôr fim ao judaísmo europeu por meio de um macabro plano conhecido como a "Solução Final".
As forças de segurança se encontram em estado de alerta máximo e os palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia foram proibidos de entrar no Estado judeu, como é habitual em todas as festividades por temor a atentados.
Também nesta segunda-feira, embora fora de Israel, cerca de seis mil judeus participarão da "Marcha dos Vivos", percorrendo em silêncio os três quilômetros que separam o campo de concentração de Auschwitz e o centro de extermínio de Birkenau, onde morreram um milhão de pessoas.
O Dia do Holocausto começou no domingo à noite com uma cerimônia no Museu de Yad Vashem, na qual seis sobreviventes desta tragédia acenderam seis tochas, uma para cada milhão de judeus assassinados pelos nazistas.
A jornada de luto será concluída no começo desta noite em Jerusalém, quando na esplanada do Yad Vashem (Museu do Holocausto) um grupo de pessoas escolhido por suas origens e méritos acenderá doze tochas, uma para cada antiga tribo bíblica de Israel.
Vivem atualmente em Israel cerca de 250 mil sobreviventes do Holocausto, 73% deles com uma idade superior aos 76 anos, dos quais a cada dia morrem aproximadamente 30.
O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, criticou no domingo à noite "aqueles que ainda não aprenderam as lições da Shoah", na cerimônia oficial de abertura da jornada de recordação, no memorial de Yad Vashem em Jerusalém.
Na Knesset (Parlamento), os deputados mencionarão os nomes das vítimas na cerimônia batizada de "todo homem tem nome".
O ministro israelense Rafi Eitan, 80 anos, ex-agente secreto do Mossad que em 1960 capturou o nazista Adolf Eichmann na Argentina, representará o governo de Israel na Marcha dos Sobreviventes em Auschwitz-Birkenau (Polônia).
Milhares de pessoas devem percorrer os três quilômetros entre Auschwitz e Birkenau, onde ficavam as câmaras de gás e os fornos crematórios.
PS:Materia publicada em 16/04/2007 pelo portal www.g1.com.br

domingo, 15 de abril de 2007

Portugueses descobriram Austrália? Afirmação se baseia em carta náutica do século XVI.


Uma carta náutica do século XVI que está em uma biblioteca de Los Angeles prova que os aventureiros portugueses, não os britânicos nem holandeses, foram os primeiros europeus a descobrir a Austrália, diz um novo livro que detalha a descoberta secreta do continente australiano.
O livro "Beyond Capricorn" (Além de Capricórnio) diz que o mapa, que marca locais geográficos de forma acurada em português ao longo da costa leste da Austrália, prova que o navegante português Cristóvão de Mendonça liderou uma frota de quatro navios até a Baía de Botany em 1522 -- quase 250 anos antes da chegada do capitão britânico James Cook.
O autor, o australiano Peter Trickett, disse que quando viu o pequeno mapa reconheceu todas as baías e cabos da Baía de Botany em Sydney -- o local onde Cook reivindicou a Austrália para a Grã-Bretanha em 1770.
"(O mapa) era tão certeiro que eu pude desenhar nele as modernas pistas de aeroporto, nos lugares apropriados, sem nenhum problema", disse Trickett na quarta-feira (21).
Trickett disse que se deparou com uma cópia do mapa enquanto folheava livros em uma livraria de Canberra há oito anos. Ele disse que a livraria tinha uma reprodução do Atlas Vallard, uma coleção de 15 mapas feitos à mão completados até 1545 na França. Os mapas representavam o mundo como ele era conhecido na época.
Dois dos mapas chamados "Terra Java" tinham uma similaridade notável com a costa leste australiana.
"Havia algo familiar neles, mas havia algo errado -- era um quebra-cabeça. Como conseguiram ter todos esses lugares com nomes portugueses?", disse Trickett.
Ele pensou que os cartógrafos haviam feito os mapas de Vallard alinhando erradamente dois mapas portugueses dos quais copiavam. É aceito que cartógrafos franceses tenham usado mapas adquiridos ilegalmente de Portugal e de embarcações portuguesas que foram capturadas, disse o autor.
"Os mapas originais teriam sido desenhados em pergaminhos feitos de animais, normalmente pele de carneiro ou cabra, de tamanho limitado. Para uma costa do tamanho do leste da Austrália, de 3.500 km, seriam 3 a 4 mapas", explicou ele.
"O cartógrafo de Vallard juntou esses mapas como um quebra-cabeças. Sem marcações de bússolas claras é possível juntar o mapa sul de duas maneiras diferentes. Minha teoria é que ele foi combinado de maneira errada".
Usando um computador, Trickett fez uma rotação de 90 graus da parte sul do mapa de Vallard para produzir um mapa que representa acuradamente a costa leste da Austrália.
"Eles forneceram provas notáveis de que navios portugueses fizeram essas viagens corajosas de descoberta no início dos anos 1520, apenas alguns anos depois de eles terem navegado o norte da Austrália para chegar às Ilhas Spice -- as Moluccas. Isso foi um século antes dos holandeses e 250 anos antes do capitão Cook", disse.
Trickett acredita que os mapas originais foram feitos por Mendonça, que saiu de Portugal com quatro navios em uma missão secreta para descobrir a "Ilha do Ouro" de Marco Pólo, no sul de Java.
A descoberta de Mendonça foi mantida em segredo para evitar que outras potências européias da época chegassem à nova terra, disse Trickett, que acredita que sua teoria é apoiada por descobertas de artefatos portugueses do século XVI nas costas australianas e neozelandesas.
PS:Materia publicada em 21/03/2007 pelo portal www.g1.com.br

quinta-feira, 12 de abril de 2007

"Quase pretos, quase brancos"

“Quando vós nos feris, não sangramos nós? Quando nos divertis, não rimos nós? Quando nos envenenais, não morremos nós? E se nos enganais, não haveremos nós de nos vingar? Se somos como vós em todo o resto, nisto também seremos semelhantes. Se um judeu enganar um cristão, qual a humildade que encontra? A vingança. Se um cristão enganar um judeu, qual deve ser seu sentimento, segundo o exemplo cristão? A vingança, pois”, fala Shylock, o polêmico personagem de O mercador de Veneza, de Shakespeare. Longe de defender a violência, o bardo retrata um sentimento, infelizmente tão humano, embora de “cientificismo” newtoniano, da “ação-reação-ação” etc. quando a questão são as supostas diferenças raciais. A ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial, disse, em entrevista recente, que “não é racismo quando um negro se insurge contra um branco, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem a obrigação de gostar de quem o açoitou”. Concordar ou não concordar?
O dilema, hamletiano, é dos mais complexos. Como, aliás, é tudo o que se refere à raça, em especial num país como o Brasil. Afinal, aqui, “ninguém é racista”, como determinou, em 1988, no centenário da Abolição, uma pesquisa cujos resultados eram sintomáticos: 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito. Mas, ao serem perguntados se conheciam pessoas e situações que revelavam a discriminação racial no país, 98% responderam com um sonoro “sim”. “A conclusão informal era que todo brasileiro parece se sentir como uma ‘ilha de democracia racial’, cercado de racistas por todos os lados”, avalia a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, autora, entre outros, de Retrato em branco e negro, O espetáculo das raças e As barbas do imperador. Democracia racial ou inferno racista? “O primeiro procedimento é destacar o caráter pseudocientífico do termo ‘raça’, mesmo porque seu sentido é diverso de lugar para lugar e suas determinações de caráter biológico têm efeito apenas relativo e estatístico. Não há como imputar à natureza o que é da ordem da cultura: a humanidade é uma, as culturas é que são plurais”, analisa Lilia.
Curiosamente, o racismo é um tema nascido com a modernidade, que “apesar de tão globalizada, encontra-se marcada por ódios históricos, nomeados a partir da raça, da etnia e da origem”. Somos “quase brancos, quase pretos”, como cantam Caetano e Gil, em Haiti, e, por isso passamos nossa história a discutir esse “quase”. “A raça, no Brasil, sempre foi um tema usado (e abusado) por ‘pessoas’ fora do estatuto da lei. Nessa sociedade marcada pela desigualdade e pelos privilégios a ‘raça’ fez e faz parte de uma agenda nacional pautada por duas atitudes paralelas e simétricas: a exclusão social e a assimilação cultural. Apesar de grande parte da população permanecer alijada da cidadania, a convivência racial é, paradoxalmente, inflacionada sob o signo da cultura e reconhecida como ícone nacional.” Isso não é de hoje.
“Passado o secular período do escravismo, entre 1890 e 1920, a elite brasileira se debateu com a angústia quanto às origens genéticas mestiças de nosso povo e de sua capacidade de servir de base para o tão sonhado desenvolvimento econômico, político e cultural. Balizados na interpretação racista, postas as origens mestiçadas do povo brasileiro, seríamos incapazes ao desenvolvimento e ao progresso”, escreve o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Paixão, em seu artigo “O justo combate”. O conceito de “raça” já chega ao Brasil “fora do lugar”, necessitando do “jeitinho brasileiro” para funcionar. “Se falar na raça parecia oportuno, o tema gerava paradoxos: implicava admitir a inexistência de futuro para uma nação de raças mistas como a nossa.
A saída foi preconizar a adoção do ideário científico, porém, sem seu corolário teórico, ou seja, aceitar a idéia da diferença ontológica entre as raças sem a condenação à hibridação, já que o país, a essas alturas, estava irremediavelmente miscigenado”, observa Lilia. “Incômoda era a situação desses intelectuais, que oscilavam entre a adoção de modelos deterministas e a verificação de que o país, pensado nesses termos, era inviável.” Pior: modelo de sucesso na Europa de meados dos oitocentos, as teorias raciais chegaram tardiamente ao Brasil. “Raça, desde então, aparece como um conceito de negociação, sendo que as interpretações variavam.”
O debate anacrônico se deu em vários territórios: as escolas médicas de Recife e do Rio de Janeiro (onde nasceu a “medicina política”), as faculdades de direito, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, os museus etnológicos e a literatura, mesmo a de ficção. Representante médico, o maranhense-baiano Nina Rodrigues assumia um darwinismo racial que preconizava a separação das raças: a seleção natural daria cabo, no processo competitivo, das inferiores, que seriam postas sob controle ou eliminadas. Com ele, a medicina adquiriu foros políticos na medicina legal: “Os exemplos de embriaguez, alienação, epilepsia, violência etc. passaram a comprovar os modelos darwinistas sociais em sua condenação do cruzamento, em seu alerta à ‘imperfeição da hereditariedade mista’”, observa Lilia.
O médico alagoano Arthur Ramos, representante do século XX, preferiu “dourar” a pílula do doutor Nina, modificando raça e mestiçamento por cultura e aculturação. “Os problemas nacionais passam a ser relidos à luz do referencial cultural, e não biológico. Assim, ao contrário das mazelas dos genes, supostamente eternas, os da cultura eram alteráveis por processos que mudassem hábitos sociais herdados”, explica Paixão. O racismo à brasileira.
Do lado jurídico, Sílvio Romero, de Recife, passou a defender que “o processo caldeador seria de importância fundamental para a adaptação aos trópicos dos descendentes de europeus e, assim, os eurodescendentes brasileiros, sem perder seus atributos originais, incorporariam o legado dos outros grupos raciais, absorvendo suas melhores qualidades”. Daí para o entusiasmo racial de Gilberto Freyre foi um pequeno passo, cuja grande inovação, nota Paixão, foi valorizar as matrizes genéticas e os hábitos culturais ordinários que formaram o povo brasileiro, sem perder tempo com pudores de ordem ético-racial. O brasileiro agora deveria se orgulhar de sua mistura.
Embora não seja um conceito diretamente forjado por Freyre, logo se começou a falar, pelo globo, da “democracia racial” brasileira, ainda que ela surja num momento em que nem sequer democracia política existia no país. Em São Paulo, Florestan Fernandes, irado com Freyre, retruca esse otimismo (em verdade, o autor de Casa-grande & senzala não escondeu o sadismo que existia na relação entre escravos e senhores, entre negros e brancos) com a tese de que a assimetria da escravidão permaneceu a funcionar.
Segundo Fernandes, o processo de modernização trouxera uma possibilidade de não efetiva realização de uma democracia racial, já que o nosso modelo, como o da relação senhor-escravo, permanecia dependente e periférico. Discriminar, longe de exceção, seria uma tradição entre nós. Nos anos 1990 antropólogos como Lilia e Peter Fry vão retomar de forma crítica o “mito da democracia racial”, valorizando, em especial, o conceito de “mito”, já que não se podia acreditar na tal democracia de raças. “Assim como não se pode negar o racismo, não se pode abrir mão de falar das singularidades dessa sociedade misturada.
Não apenas a mistura biológica, mas a miscigenação dos costumes e da religião”, escreveu Lilia. A democracia racial é um mito, não há dúvida. “Mas o mito guarda uma importância por ele mesmo, tendo em vista sinalizar um desejo coletivo, ausente de outras realidades, onde a discriminação racial não faria questão de se manifestar de forma velada. Considerando que toda sociedade se articula em torno de mitos de origem (como o american way of life ou a liberdade, igualdade e fraternidade, dos franceses), o da democracia racial seria apenas um entre outros”, avalia Paixão. “Dessa maneira, se vai longe o contexto intelectual de finais do século passado; se já não é mais cientificamente legítimo falar das diferenças raciais a partir de modelos darwinistas sociais, a raça, porém, permanece como tema central do pensamento brasileiro”, acredita Lilia.

Quando até a secretária Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial usa o “senso comum” para justificar o racismo, o que se pode esperar da sociedade?
— Foi evidentemente uma declaração infeliz. Mas é preciso desmontar o que há por trás do senso comum, dessa fala que “aflora”. O racismo é sempre deletério. Ele impede que você avalie uma pessoa, partindo de uma formação física, sobretudo da coloração da pele, ou então que você atribua à coloração da pele uma explicação de ordem biológica. O racismo é sempre uma perversão. Não há nada de natural nele, que é uma construção cultural nascida das profundas diferenças sociais que nos dividem. Eu acho correto que se recorra à história para tentar entender e modificar esse panorama, formar uma política. Mas chamar de natural qualquer tipo de racismo é fazer da história um campo de batalha ideológico. Não há naturalidade aí. Acho que isso pode levar de fato a uma excitação, a um ódio e, sobretudo, a algo que de que todos devemos discordar, que é transformar a raça humana numa essência, numa realidade. Ela não é raça, é uma construção social e política.

Como ciência e racismo se relacionaram historicamente no Brasil?
— O Brasil é um país de paradoxos, porque ao mesmo tempo que nós carregamos esse tremendo pessimismo, que foi do século XIX até os anos 1930, depois convivemos com um grande otimismo: raça sempre deu muito o que falar no Brasil, para o bem e para o mal, como elemento de detração ou como elemento de positivação. Esse senso comum, ele já foi ciência, ou seja, o preconceito já foi conceito. No final dos dezenove, a ponta de lança científica brasileira e a internacional diziam que a mistura de raças era prejudicial e que um país formado por raças muito diferentes estava fadado à decadência. Nina Rodrigues, da Escola de Medicina da Bahia, era o arauto dessa idéia. Ele mostrava, a partir da idéia de que a esquizofrenia, a bebida, a loucura, inclusive as tatuagens, eram demonstrações de que os indivíduos eram degenerados e que essa degeneração passaria para o corpo da nação. Essa seria uma nação sem futuro. Essa visão não era só de Rodrigues; nós a encontrávamos em Euclides da Cunha, cujo relato maravilhoso é cheio de confrontos: o sertanejo é um desequilibrado, um degenerado, porque é fruto de raças muito equilibradas e diferentes. Ao mesmo tempo, ele também é “rocha viva, a rocha dura”. Euclides da Cunha não dá conta de que, nem por que, enfim, esse mestiço sobrevive. Sílvio Romero, por exemplo, tem uma frase sensacional que revela o espírito de época: “É preciso não ter preconceito. Os homens são diferentes”. Então, nessa época, ter preconceito era afirmar a igualdade. Agora isso virou um senso comum. Nos anos 1930 há uma exaltação oficial da mestiçagem como nossa profunda singularidade, a saída que o Brasil dará para o mundo. A ciência passa a deslegitimar a idéia de que a mestiçagem é ruim. O senso comum assume isso também.

Essas teorias chegam aqui “copiadas” ou passam por uma adaptação?
— O movimento no Brasil estava na contramão, porque, no momento em que as teorias raciais viram a palavra de ordem da ciência brasileira, estavam entrando em descrédito na Europa. E no momento em que as teorias raciais passam a ser desacreditadas no Brasil, isso já nos anos 1930, 40, na Europa elas voltam com força, com a questão do nazismo. As idéias, quando entram nesse momento da história brasileira, e nessa configuração social, política e específica, ganham uma nova dimensão e, inclusive, na nova leitura, uma seleção. Afinal, uma coisa é pensar na eugenia em povos não misturados, outra é a eugenia em povos já misturados, os chamados de laboratórios raciais. Aqui, o que houve? Um casamento de teorias que em outros lugares acabaria em desastre. Claro que são as teorias do evolucionismo com as teorias mais deterministas raciais, porque o determinismo racial supõe o quê? Não há como misturar. O evolucionismo prevê o quê? A idéia de que certas misturas podem ser benéficas e outras não. Há uma seleção. Não foi uma cópia, mas uma tradução.

Como entender as tentativas de branqueamento da nação, por meio de imigrantes, separação de raças e outras iniciativas?
— Essa saída, via branqueamento, é um exemplo da solução à brasileira, porque não é dizer que o Brasil evitou o branqueamento. Claro que não, porque há todo um movimento na Europa que prevê a política da eugenia. Mas para poder aplicar a política de branqueamento num contexto já “branco” é diferente de pensar em política de branqueamento num país em que a população está africanizada. Já se pede uma política de emigração. João Batista Lacerda, do Museu Nacional, vai participar do Congresso Oficial das Raças. Naquele momento, vivemos no contexto do pan-americanismo, há um receio político de que os Estados Unidos pratiquem uma política de invasão dos nossos territórios e Lacerda leva como saída o branqueamento. Ele mostra como, num estágio de cem anos, o Brasil seria branco, pela seleção natural e pela implementação de políticas migratórias brancas. Para ter noção do “calor da hora”, Lacerda é considerado pessimista, pois falou em um século, o que seria demais para o branqueamento da nação. Isso sem esquecer de política de migração implementada sobretudo por Pedro II. Pode-se entender a política de migração, mas por que branca? A explicação está no conteúdo racial ideológico dessa política. Há, por exemplo, um professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Renato Kehl, que era partidário do modelo da África do Sul. Ele faz um elogio à política sul-africana, que selecionava a migração, e emigrantes brancos, e pede o movimento dos dois lados. De um, a emigração branca e selecionada e, de outro, faz um elogio à esterilização de mestiços. Quer dizer, o país da alentada democracia racial estava a um passo do apartheid social.

De que forma a raça foi usada como forma de criar uma identidade nacional?
— Esse é um processo lento, porque sabemos que nações são construções, projetos feitos de memórias. Como dizia Walter Benjamin, “a memória é um passado feito de agora, repleto de agora”. A memória é feita de algumas lembranças e de muitos esquecimentos. Um processo de formação de uma memória nacional é um processo de esquecimento, de seleções e de reelaborações. Até de uma literatura, como a de 1922, que mostrou que criamos um Estado, mas não uma nação. A identidade, ela é uma construção contrastiva e o material, o fermento da identidade, era a idéia da diferença. Então era preciso fermentar essa noção da diferença. Esse bolo vai sendo cozinhado durante o século XIX e a gestão de Pedro II é fundamental para entender esse modelo de Brasil que vai se construindo. Pedro II não era grande adepto dos modelos racialistas, mas não se pode dizer que não fosse influenciado pela época, pois, lembrando Sílvio Romero, nesse momento, assumir as diferenças era não ter preconceito. Daí a seleção do indígena como o ícone da nacionalidade, embora o indígena romantizado. Essas teorias raciais entrariam em fins do século XIX na Faculdade de Direito, na Faculdade de Medicina, nos círculos militares. Mas foi no começo do século XX que esse debate em torno da raça fica mais evidenciado. O interessante é que, para a confirmação da identidade, a raça teve que ser positivada: assim como no Império você positiva o indígena, no século XX, positiva-se a mestiçagem. A mestiçagem de nosso profundo veneno se transforma na grande virtude: é o momento em que você tem a oficialização da capoeira, a descriminalização do candomblé, o futebol se transforma numa prática negra, Nossa Senhora Aparecida se transforma numa santa mestiça, ícone nacional. Nos anos 1930 a raça vira de fato um elemento da nacionalidade, mas como “a boa raça”, “a boa mistura”, e uma mistura racial se transforma cada vez mais numa mistura cultural.

Como se pode reunir preocupação com raça e racismo?
— Na verdade, não há uma solução de continuidade. Pode parecer, pela etimologia, raça e racismo, que há, mas não obrigatoriamente. Estávamos à beira de uma política de apartheid social, de políticas raciais evidentes. Estávamos para implementar uma política oficial de racialização, o que não aconteceu. Já o ideário modernista transformou o tema da raça num tema da humanidade. A primeira definição de Macunaíma é um homem sem raça; daí para o homem sem nenhum caráter é jogar a questão para o bojo da cultura. O ideário modernista transformou raça, cultura em etnia e desfalcou o tema para pensar de alguma forma em modelos de assimilação. A idéia modernista de Macunaíma, daquilo que você deglute, do que você devolve, é um pouco essa idéia de que você devolve o homem ao caldeirão de cultura. É claro que essa noção, de alguma maneira, via o conflito, mas fazia o oposto. A vantagem da literatura à Nina Rodrigues é que em nenhum momento ela camufla o conflito, antes expõe diferença. O problema de Rodrigues não era o diagnóstico, mas o remédio que ele implementava.

E sua idéia da “ilha de democracia racial, cercada de racismo”, o brasileiro que só vê o racista no outro?
— Arthur Ramos teria sido o primeiro a falar de democracia racial, mas Freyre levou a fama. Mas é preciosismo saber quem foi o primeiro, pois o tema estava na agenda nacional. Tanto que encontrou lastro na discussão nacional, via Estado Novo, e ganhou resultados fora do Brasil. Não se pode esquecer o impacto que essa idéia teve no exterior, como no caso da pesquisa da Unesco que chamou o Brasil de caso exemplar, uma grande democracia racial. A idéia do mito é forte e ganha diferentes conotações. Quando falamos em mito, não é no sentido da mentira. Hoje se pensa menos no que o mito esconde e mais no que o mito revela. Quando se pensa na análise estrutural do mito, eles trabalham em espiral, falam entre si e o tempo todo de elementos que estão aqui na nossa realidade social. Então, eu penso que é preciso levar a sério o mito, porque ele já foi desmontado muitas vezes e continua presente. O que significa levar a sério o mito? Não é dizer “temos democracia racial”. Não, não temos. Praticamos uma política perversa de exclusão e de discriminação. Então, não há a tal democracia social ou racial, mas também não acho que devemos apostar em modelos de fora, análises que dicotomizam a realidade entre negros e brancos. Talvez essa seja a afirmação mais infeliz da ministra, aparada em modelos que não são os praticados neste país. A mestiçagem é uma realidade, mas o problema não é a constatação da mestiçagem, mas a qualificação positiva sempre da mestiçagem. Mestiçagem não é sinônimo de igualdade. Mestiçagem não é obrigatoriamente sinônimo de ausência de discriminação. É esse vácuo que me incomoda.

Podemos pensar, enfim, que ainda se possa manter o conceito de raça?
— Raça não é uma realidade ideológica, mas raça é uma construção, muitas vezes perversa, porque ela leva a um campo de hierarquização. Dito isso, raça é uma construção, identidade também é uma construção. Estamos nesse campo: identidade também não é uma construção que se faz em contexto e com lutas sociais e com tensões sociais a todo momento. Então seria preciso pensar por que é que no Brasil raça sempre foi material para pensar em identidade e o que é que seria esse racismo à brasileira. Eu acho que existe, sim, um racismo à brasileira, cuja grande complexidade é que ele é uma idéia que é, sobretudo, de caráter privado. Isso tem se alterado e muito. Esse racismo brasileiro ainda se manifesta na esfera do privado, por conta da ausência de movimentos no corpo da lei. O que está havendo é uma inversão. Estamos tentando colocar no corpo da lei políticas de compensação, praticando políticas que de alguma maneira estão retornando e racializando o debate. Esse racismo à brasileira é de caráter privado, por não se manifestar no corpo da lei e por não se manifestar nas estâncias mais oficiais. Além de tudo ele também é um racismo que sempre joga no outro a cota de preconceitos. Pode ser o argentino, no caso do futebol. O lado bom do momento em que nós vivemos é enfim que as pessoas estão passando a refletir sobre essa questão. Não falar a respeito não significa que você não viveu o problema. As pessoas negam e jogam no outro o racismo que na verdade é de cada um.

O que acontece quando se junta a questão racial à de gênero?
— Já é uma discriminação duplicada. Não é a dupla jornada de trabalho, mas é a dupla jornada de preconceito, porque se existe um leque de representações negativas com relação ao malandro, ao mestiço, quando se refere à mulher, isso aumenta. A mulata é palco para a idéia de que não é só a preguiça, mas os atos sexualmente condenáveis; há a influência da prostituição, a traição, a mulata que é matreira.

Enfim, como antropóloga, qual é a sua visão do futuro do conceito de raça e do “ser brasileiro”?
— Nós acionamos várias brasilidades dependendo do lugar, do momento e da situação, porque é um conceito baseado, sobretudo contrastivo. A identidade se constrói pela imposição que ela apresenta, pela posição que ela ilumina. Escrevi um artigo para um jornal de Portugal sobre um jogo de futebol, em Paraisópolis, que se chama “Preto contra Branco: é um jogo de futebol, no final do ano”. Nele as pessoas mudam de posição: num ano jogam pelo Preto, noutro pelo Branco. Daí, você nota como, primeiro, a identidade é uma questão circunstancial e raça, uma situação, no senso comum, “passageira”. As pessoas “embranquecem”, “empretecem”. O que é uma prova de como raça, não como um conceito biológico, mas raça como uma construção social, continua a ser acionada no nosso imaginário. O que eu posso dizer, sem medo de errar, é que as raças sempre deram o que pensar no Brasil, porque, enfim, elas sempre acionaram, em momentos estratégicos, que a identidade, também pensada como uma construção, é transformada num elemento conformador de políticas públicas e de políticas de Estado.

PS: ENTREVISTA (http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3188&bd=1&pg=1&lg=)



domingo, 8 de abril de 2007

SALAZAR O "MELHOR PORTUGUÊS"

Ao ler a notícia me surpreendi, e acredito que, se o caro leitor que conhece a história portuguesa com certeza, certamente se surpreenderá.
O ditador António de Oliveira Salazar, isso mesmo governou Portugal entre 1932 e 1968, venceu nesta segunda-feira (26) uma votação popular para escolher os "melhores portugueses da história". A eleição foi promovida pelo canal estatal RTP. Na votação, o ditador superou o histórico líder comunista português Álvaro Cunhal, que ficou em segundo. Em terceiro ficou Aristides de Sousa Mendes, um diplomata que ajudou milhares de judeus perseguidos pela Alemanha nazista, contra as ordens do próprio Salazar. Salazar também ficou à frente de figuras históricas como Afonso Henriques, o primeiro rei português, e Luis de Camões, considerado o poeta mais importante do país. O resultado da consulta causou surpresa em alguns setores da sociedade lusitana, tendo em vista que Salazar é o símbolo dos quase 40 anos de uma ditadura que isolou Portugal do resto do mundo. Analistas políticos destacaram que muitos portugueses de meia-idade, descontentes com a situação econômica do país, sentem simpatia pela figura do ditador, filho de agricultores e nascido em abril de 1889.
Mas a memória do ex-ditador também parece ter atraído setores mais jovens da sociedade, que sequer o conheceram. Nomeado para o Ministério das Finanças em 1928, Salazar conseguiu um superávit nas contas públicas. Em 1930, fundou o partido União Nacional e, em abril de 1932, tomou definitivamente o Poder. Salazar aprovou uma nova constituição um ano depois, com uma abstenção de 40% do eleitorado, e manteve a neutralidade de Portugal na Segunda Guerra Mundial.
No entanto, não conseguiu evitar a perda da Índia portuguesa, em 1962, nem a guerra colonial a África, que marcou o fim do Império português.
A votação portuguesa seguiu o modelo de outras já realizadas em diversos países europeus, como o Reino Unido, onde o vencedor foi o ex-primeiro-ministro Winston Churchill, e a Alemanha, onde o ex-Chanceler Konrad Adenauer foi o preferido.
Se essa moda pega teria o Brasil, como vitorioso o Sr. Getulio Dornelles Vargas?, “o pai dos pobres”, que pouco difere de Salazar.

sábado, 7 de abril de 2007

AS TERMAS ROMANAS


Foram econtradas termas romanas datadas do século em um sítio de Castel Di Guido, na localidade de Olivella, próxima a Roma. A descoberta aconteceu há dois anos, quando os agentes encontraram dois traficantes de restos arqueológicos.
Escavações arqueológicas foram iniciadas em meados do ano passado em dois dos seis ambientes individuais do espaço termal, nos quais foram encontrados mármores, mosaicos de valor artístico, lajes policromadas, revestimentos e cornijas (moldura que serve de arremate superior à fachada de uma casa ou prédio).
A vila termal está localizada em um território que na idade antiga era passagem entre o mundo etrusco e o romano e na época republicana adquiriu a denominação de "Lorium" e era freqüentado por personalidades da corte imperial.
Termas eram locais usados pelos romanos destinados aos banhos publicos, embora essa prática tenha iniciada pelos Caldeus.
Esses banhos públicos podiam ter diversas finalidades, entre as quais a higiene corporal e a terapia pela água com propriedades medicinais; em geral as manhãs eram reservadas às mulheres e as tardes aos homens.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

A SEMANA SANTA

É durante a Semana Santa, que a Igreja celebra os mistérios da reconciliação, realizados pelo Senhor Jesus nos últimos dias da sua vida, começando por sua entrada messiânica em Jerusalém.
O tempo da Quaresma se prolonga até a Quinta-feira da Semana Santa. A Missa Vespertina da Ceia do Senhor é a grande introdução ao santo Tríduo Pascoal. O Tríduo Pascual tem início na Sexta-feira da Paixão, prossegue com o Sábado de Aleluia, e chega ao ápice na Vigília Pascual terminando com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.
É importante recordar que "as ferias da Semana Santa, desde a Segunda até inclusive a Quinta-feira, têm preferência sobre qualquer outra celebração" e por tanto nestes dias não se deve administrar os sacramentos do Batismo e da Confirmação.
É importante que nestes dias se ofereçam em todas as paróquias, capelas, colégios, hospitais e centros de evangelização, horários amplos para facilitar aos fiéis o acesso ao Sacramento da Reconciliação como preparação espiritual para acompanhar ao Senhor Jesus na entrega de Si mesmo por nós. É muito conveniente que o tempo da Quaresma termine com alguma celebração penitencial que sirva de preparação para uma participação mais plena no mistério pascoal.
Feliz Páscoa a todos.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

TÁ PENSANDO QUE É BONITO SER FEIO? É SIM!

Se temos uma tendência a preferir parceiros bonitos em relação a feios, por que a seleção natural não agiu até agora para eliminar gente feia do mundo? Esse grande paradoxo da evolução acaba de ser respondido por dois cientistas do Reino Unido. De acordo com seu estudo, isso acontece porque um gene que causa mutações no nosso genoma “pega carona” naqueles ligados às características que apreciamos, como a beleza. Por isso, em vez de a seleção sexual diminuir as diferenças entre nós, como ditaria a lógica, ela, na verdade, nos torna cada vez mais diferentes.
O fato de a seleção sexual não ter nos transformado em uma espécie formada apenas por Giseles Bündchens e Reynaldos Gianecchinis é um dos argumentos preferidos dos criacionistas para derrubar a teoria da evolução de Charles Darwin. Agora, Marion Petrie e Gilbert Roberts, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, respondem. Segundo seu estudo, a evolução não age por um mecanismo tão simplista.
No trabalho publicado na revista científica “Heredity”, do grupo da prestigiada "Nature", eles usaram um modelo computacional para verificar se um elemento que alterava as mutações genéticas em bactérias também causava impacto em espécies que se reproduzem de forma sexuada, como nós. A resposta foi um surpreendente “sim”.
“Esse é um extraordinário dilema evolucionário. Um grande paradoxo da teoria da evolução”, disse Petrie ao G1. “Na verdade, mecanismos que nós achávamos que não tinham muita importância na seleção natural são, de fato, muito relevantes. A questão é bem mais complexa do que parece e a seleção sexual uma ferramenta ainda mais poderosa do que pensávamos.”
Pela lógica, toda forma de seleção diminuiria as diferenças entre uma espécie em algumas gerações. Mas, na verdade, não temos nada a ganhar nos transformando em um grupo homogêneo de indivíduos. Para começar, a própria seleção natural pararia de funcionar. Afinal, se somos todos iguais, ela vai selecionar o quê? Depois, o fim da diversidade genética é um risco: sem variações dentro da espécie para resistir, uma única doença causada por uma única bactéria poderia nos dizimar a todos.
Por outro lado, mutações também não são a coisa mais segura do mundo. “Mutações benéficas são raras”, afirma Petrie. A maioria delas causa problemas, como o câncer. Por isso, embora a falta de diversidade seja um problema, seria compreensível se a lógica seguisse seu curso e a seleção sexual diminuísse a quantidade de mutações dos nossos genes.
Resolvendo o paradoxo, entra em cena o tal gene modificador, que os cientistas acreditavam que só agia em bactérias. Segundo a pesquisadora, o gene aumenta o número de mutações genéticas. Aumentando o número de mutações como um todo, ele também aumenta o número de mutações benéficas. Mutações essas que são selecionadas por nós, através da seleção sexual, que levamos de brinde o gene modificador, que vai aumentar o número de mutações e a diversidade, começando tudo outra vez.
“É um círculo. Sem diversidade não há seleção sexual. Então a seleção sexual seleciona indiretamente o gene modificador, que aumenta a diversidade, que permite que a seleção sexual continue existindo”, afirma Petrie.
Ou seja, não apenas a teoria da evolução não está errada, como ela é muito mais sutil e complexa do que pensávamos. E se não somos uma espécie de top models, pelo menos seremos uma espécie que vai durar mais tempo.
PS:Materia publicada em 29/03/2007 pelo portal www.g1.com.br
(Foto: Divulgação/National Geographic Society)

terça-feira, 3 de abril de 2007

Moeda antiga mostra que Cleópatra era feia

A imagem de prata em um pequeno denário de prata encontrado pela Universidade de Newcastle a mostra com um queixo proeminente, lábios finos e um nariz grande, de acordo com notícias da mídia britânica desta quarta-feira (14).
E nem o amante dela, o general romano Marco Antonio, parecia ser mais atraente. O retrato dele nas costas da moeda, que data de 32 a.C., o mostra com olhos salientes, um nariz em forma de gancho e lábios finos.
Clare Picersgill, diretora assistente da universidade para museus arqueológicos, disse: "A imagem popular de Cleópatra é a de uma rainha bonita que era adorada por políticos e generais romanos".
"O relacionamento entre Marco Antonio e Cleópatra foi durante muito tempo romantizado por escritores, artistas e cineastas", disse ela segundo o "The Times".
A moeda, que estava em um galeria britânica há muitos anos, foi redescoberta durante uma busca por itens que seriam apresentados em um novo museu no norte da Inglaterra.
Feia ela pode até ter sido, mas ninguém pode acusar Cleópatra de não ter sido um sucesso com os homens. A vida amorosa da rainha incluiu casamentos fracassados com dois de seus próprios irmãos e um filho com o todo-poderoso Júlio César. A série de relacionamentos com os grandes chefes da Antigüidade, porém, tinha um alvo certeiro: reconstruir o poderio do Egito, que estava em decadência, e quem sabe forjar para a soberana um novo império no Oriente Próximo. Nada mal para uma mocréia.
Sem trocadilho com a suposta forma de suicídio de Cleópatra, o fato é que a princesa se criou num verdadeiro ninho de víboras. Sua família, a dinastia dos Ptolomeus, vivia permeada de intrigas. Apesar de terem governado o Egito por quase 300 anos, os Ptolomeus ainda eram meio estrangeiros: falavam apenas grego, pois descendiam de um dos generais de Alexandre, o Grande (chamado, obviamente, de Ptolomeu). Reza a lenda que Cleópatra foi a única da dinastia a aprender o idioma egípcio. Como os antigos faraós, ela era considerada uma deusa por seus súditos: seu nome "oficial" era Cleópatra Thea Philopator - "A deusa Cleópatra, amada por seu pai".
Filha do faraó Ptolomeu XII Auletes, ela teve de enfrentar ainda na adolescência uma rebelião de sua irmã mais velha, Berenice, que tirou o pai das duas do trono. O faraó recuperou o cargo com a ajuda dos romanos e, ao morrer no ano 51 a.C., deixou o Egito para Cleópatra, então com 18 anos, e seu irmão e marido Ptolomeu XIII, com 12 - o casamento entre irmãos era um dos costumes egípcios que a dinastia tinha adotado.
A rainha, porém, logo deu mostras de que queria governar sozinha. Mandou cunhar sua própria moeda e tirar o nome do marido dos documentos oficiais. Acabou sendo forçado a se exilar, mas a chegada ao Egito de Júlio César (que estava perseguindo seu rival derrotado, Pompeu) virou o jogo em favor de Cleópatra. Ela seduziu o general romano, quase 30 anos mais velho que ela, e ganhou seu apoio para derrotar o irmão-marido.
Cleópatra casou-se com seu outro irmão, Ptolomeu XIV, que não passou de um faraó-fantoche até morrer por causas suspeitas poucos anos mais tarde. E teve um filho com César, Cesárion - ela quis convencer o romano a nomeá-lo seu herdeiro, mas ele não o fez.Sempre rápida no gatilho na hora de sentir o clima político, Cleópatra não se abalou com a morte de César. Pelo contrário, tornou-se amante do antigo subordinado dele, Marco Antônio, agora um dos governantes de Roma. Os dois tiveram três filhos (Cleópatra Selene, Alexandre Hélio e Ptolomeu Filadelfo) e começaram a forjar sua própria subdivisão do Império Romano, controlando o Egito, Chipre, a Síria e outras regiões do leste do Mediterrâneo.
Quem não gostou nada dessa história foi Otávio, sobrinho-neto e herdeiro de César. Decidido a se tornar o único senhor do Império Romano, ele derrotou os exércitos de Marco Antônio, levando o general e Cleópatra ao suicídio no ano 30 a.C. Ele também ordenou a morte do jovem Cesárion - teria dito "Há Césares demais por aqui" - e se tornou o primeiro imperador romano, conhecido futuramente como Augusto.
O interessante é que a maioria dos escritores da Antigüidade, apesar dessa série impressionante de conquistas, não enfatizam a beleza da rainha. Dão bem mais destaque à sua habilidade com línguas, ao seu bom humor e à sua inteligência.

P.S:Materia publicada em 14/02/2007 pelo portal www.g1.com.br

segunda-feira, 2 de abril de 2007

As pirâmides de Gizé


Um arquiteto francês declarou na sexta-feira ter resolvido o mistério que há 4.500 anos cerca a Grande Pirâmide do Egito, afirmando que ela foi construída de dentro para fora.
Teorias anteriores diziam que o túmulo do faraó Khufu (Quéops), a última das sete grandes maravilhas do mundo antigo que ainda sobrevive, foi construída ou usando uma enorme rampa frontal ou então uma rampa em forma de espiral, em volta da parte externa da pirâmide, para erguer as pedras.
Mas Jean-Pierre Houdin disse que uma análise 3D avançada mostra que a rampa principal empregada para erguer as pedras maciças para o ápice da pirâmide estava contida entre 10 e 15 metros abaixo da camada externa da pirâmide, fazendo uma pirâmide dentro da pirâmide.
"Esta teoria é melhor que as outras porque é a única que funciona", disse Houdin, depois de apresentar sua hipótese numa cerimônia em que usou simulação computadorizada em 3D.
Para provar sua tese, Houdin montou uma parceria com a empresa francesa Dassault Systêmes, que constrói modelos para o design de automóveis e aviões. A empresa pôs 14 engenheiros para trabalhar no projeto por dois anos.
Agora uma equipe internacional está sendo montada para sondar a pirâmide, usando radares e câmeras de detecção de calor fornecidas por uma firma de defesa francesa, desde que as autoridades egípcias aprovem a operação.
O egiptólogo Bob Brier disse à Reuters na apresentação da hipótese: "Isso contraria as duas principais teorias existentes. Eu mesmo as ensino há 20 anos, mas, no fundo, sei que estão erradas."
Houdin começou a trabalhar em tempo integral sobre o enigma oito anos atrás, depois de uma intuição que lhe foi transmitida por seu pai, engenheiro, e cinco anos antes de visitar a pirâmide "in loco".
Ele acredita que, com as técnicas que visualiza, a pirâmide pode ter sido erguida por não mais de 4.000 pessoas, em lugar das cerca de 100 mil vistas por historiadores passados como o número provável de trabalhadores encarregados de enterrar o faraó.

P.S:Materia publicada em 30/03/2007 pelo portal www.g1.com.br

domingo, 1 de abril de 2007

INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA


Durante um debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-Governador do Distrito Federal, Cristóvão Buarque, foi questionado sobre o que ele pensava da Internacionalização da Amazônia. O Jovem americano introduziu sua pergunta, dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Esta foi a resposta do Sr. Cristóvão Buarque: "De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem impotancia para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo e tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro.
Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as Reservas financeiras sirvam para queimar países inteiro da volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. (...)
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparacer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatam deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife. Cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os Eua querem a internacionalização da Amazônia, pelo risco de deixa-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de COMER e de ir a escola. Internacionalizemos as crianças, tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia.
Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito a internacionalização do mundo.
Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!"

Ps: Está matéria foi publicada no jornal "The New York Times".
Infelizmente no Brasil, ela foi pouca, talvez nada, divulgada.