quinta-feira, 31 de maio de 2007

"OS ANOS DE CHUMBO"

DICA DE FILME: "BATISMO DE SANGUE"

SÃO PAULO (Reuters) - Histórias sobre a ditadura brasileira (1964-1985) formam uma das fontes de inspiração do cinema brasileiro atual. Depois do sucesso e premiações de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger -- que chegou a competir no Festival de Berlim --, chega às telas nacionais "Batismo de Sangue". Dirigido pelo mineiro Helvécio Ratton ("Uma Onda no Ar"), o filme, que recebeu os troféus de melhor direção e fotografia no Festival de Brasília 2006, adapta as memórias do religioso e escritor mineiro Frei Betto, como é conhecido o frade, jornalista e escritor Carlos Alberto Libânio Christo, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Exibindo cenas de tortura com uma franqueza que o cinema nacional não registrava há muito tempo, como aconteceu em filmes como "Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia" (1977), de Hector Babenco, e "Pra Frente Brasil" (1982), de Roberto Farias, "Batismo de Sangue" aborda um período que começa em 1968, quando um grupo de jovens frades dominicanos aderiu à luta armada. Sem o conhecimento da cúpula da Igreja Católica, estes religiosos faziam contatos e davam apoio à fuga de guerrilheiros de esquerda, em plena ditadura militar, governo do general Emílio Garrastazu Médici. Entre eles, Frei Betto (Daniel Oliveira) e Frei Tito de Alencar (Caio Blat) -- que terminou suicidando-se na França, em 1973, depois de sofrer um longo processo de depressão, causado pelas torturas sofridas sob as ordens do delegado Sérgio Paranhos Fleury (Cássio Gabus Mendes). O projeto desta filmagem começou em 2002, quando Frei Betto enviou ao diretor Helvécio Ratton seu livro "Batismo de Sangue" com uma dedicatória: "Coragem! A realidade extrapola a ficção". Também ajudou Ratton o fato de ter militado na luta armada nos anos 1970. O futuro cineasta chegou a viver exilado no Chile por alguns anos. Ao voltar ao Brasil em 1973, foi preso e passou alguns meses em celas escuras, isolado e, às vezes, completamente nu e encapuçado, como ele relata no livro "Helvécio Ratton -- O Cinema Além das Montanhas", de Pablo Villaça, da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Todo esse conhecimento de causa que Ratton, inegavelmente, possui, no entanto, não se traduz com o mesmo impacto no filme que realizou. "Batismo de Sangue" coloca sua ênfase mais num retrato de época externo aos personagens (os automóveis, os figurinos, os óculos), não conseguindo colocar o espectador no centro de seus sentimentos e motivações. Do dia para a noite, alguns frades dominicanos aliaram-se à luta armada, mas nunca se entende como e porquê. Disso resulta um trabalho estranhamente distanciado justamente de uma época da História do Brasil em que explodiam todas as paixões, a política inclusive. Há, também, um visível desequilíbrio nas interpretações -- cada ator parece estar seguindo seu próprio caminho.

FONTE: http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,AA1520749-7084,00.html

quarta-feira, 30 de maio de 2007

PROTOCOLO DE KYOTO


Os ministros de Assuntos Exteriores da União Européia (UE) e da Ásia exigiram nesta terça-feira (29) um pacto mundial contra a mudança climática que suceda, em 2012, o Protocolo de Kyoto para a redução de emissões que causam o efeito estufa. Trata-se da conquista mais importante alcançada pelos 46 ministros do Encontro Ásia-Europa (Asem, em inglês), uma reunião de dois dias que está sendo realizada em Hamburgo, na Alemanha. Os ministros reconheceram, segundo a declaração final emitida pela Presidência alemã do Asem, que a luta contra a mudança climática é um "objetivo comum", embora com "responsabilidades diferenciadas", o que obrigará todos os países em desenvolvimento, incluindo China e Brasil, a assumir compromissos em favor do clima. Para a delegação japonesa em Hamburgo, a declaração é um agrado aos Estados Unidos, país que não assinou Kyoto por eximir os países em desenvolvimento e se nega a assinar um acordo com metas na cúpula que os representantes do G8 -- sete países mais industrializados e a Rússia - farão na próxima semana em Heiligendamm.
Apesar da rejeição de Washington à proposta da Presidência alemã do G8, o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores do Japão, Mitsuo Sakaba, disse que tem certeza que em Heiligendamm será redigida uma declaração sobre mudança climática. "A proposta alemã era muito radical. Acreditamos que a estratégia a seguir é outra. Primeiro é preciso reunir todos sob um objetivo comum e depois distribuir as tarefas", disse Sakaba. Em Hamburgo, como também não ocorrerá em Heiligendamm, os ministros do Asem não estabeleceram metas -- a proposta alemã para a cúpula do G8 era de reduzir pela metade as emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2050 e de elevar a 20% a percentagem das alternativas --, e sim datas. As negociações para esta nova aliança mundial contra o aquecimento global da Terra devem ser concluídas até 2009 para evitar um vazio entre a aplicação da primeira e segunda fase de compromissos previstos no Protocolo de Kyoto. O acordo deverá incluir, segundo os ministros, mecanismos para o desenvolvimento sustentável, novas formas de cooperação tecnológica, formas mais eficazes para a promoção das energias renováveis e um mercado global de energia mais transparente. Os ministros do Asem defenderam o relatório do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e reconheceram que a energia e a mudança climática, por suas conseqüências na paz e na segurança, se tornou um dos maiores desafios da política internacional.

FONTE:http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL44126-5603,00.html

terça-feira, 29 de maio de 2007

A CONFISSÃO

Presidente do Senado fez pronunciamento para rebater denúncias. Esposa do senador foi ao Senado para acompanhar o discurso.

O discurso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi marcado por referências à família. No início do depoimento, ele se disse “indignado e constrangido” e falou que “confessaria um pecado” publicamente. A mulher de Renan, Verônica Calheiros, foi ao Senado acompanhar o pronunciamento. O parlamentar deu explicações sobre os pagamentos feitos pelo lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, à jornalista Mônica Veloso, com quem Renan teve uma filha. “Não se pode avaliar o que significa a repercussão dessas especulações sórdidas na vida íntima das pessoas, a corrosão que implica na vida das famílias, da mulher, dos filhos e principalmente da criança que tem direito a viver sem traumas”, disse.
Em outro momento, falou sobre a gravidez da jornalista. “Revelo que, logo que tive conhecimento da gravidez, impossibilitado de fazê-lo pessoalmente em virtude da circunstância que se impunha, pedi a um amigo que intermediasse meu apoio”.

FONTE: http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL43637-5601,00.html

MINISTRO JAPONÊS ENVOLVIDO EM ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO COMETE SUICÍDIO


O ministro japonês da Agricultura, Toshikatsu Matsuoka, envolvido em um escândalo de corrupção, cometeu suicídio nesta segunda-feira, o que deixa em situação delicada o primeiro-ministro conservador Shinzo Abe a apenas dois meses de eleições cruciais no país. Matsuoka se matou algumas horas antes de uma sessão no Parlamento na qual deveria apresentar explicações para as acusações feitas contra ele. "O ministro da Agricultura, Toshikatsu Matsuoka, veio a falecer às 14H00 (2H00 de Brasília) no hospital para onde havia sido levado", anunciou o porta-voz do governo, Yasuhisa Shiozaki. Matsuoka, 62 anos, foi encontrado inconsciente pouco depois do meio-dia em sua casa, uma residência parlamentar oficial em Tóquio. Segundo a imprensa nipônica, um assessor encontrou o corpo do ministro, que vestia um pijama. Ele teria se enforcado com uma correia de cachorro na porta da sala, segundo os meios de comunicação. "Trata-se de um caso extremamente infeliz e estou triste pelo pesar. Rogo pelo descanso de sua alma", reagiu Abe, que disse ter depositado "grandes esperanças" em Matsuoka, um especialista em agricultura nomeado para o ministério em setembro de 2006 e que desde então havia trabalhado para aumentar as vendas de arroz a China. A imprensa japonesa acusara recentemente dois comitês de apoio eleitoral a Matsuoka de ter recebido milhões de ienes de construtoras e empreiteiras, que por sua vez ganharam licitações de uma agência de gestão florestal controlada pelo governo. O ministro também era acusado de ter declarado gastos de funcionamento exorbitantes em seu gabinete parlamentar. A oposição e alguns membros de seu próprio partido, o Partido Liberal Democrata (PLD, no poder), haviam exigido sua renúncia. "Estou dolorosamente consciente de minha responsabilidade, como ministro. É meu dever que tal ato não se reproduza", declarou Matsuoka antes do último final de semana. O suicídio do ministro pode prejudicar seriamente o chefe de Governo, que saiu em sua defesa, a poucos meses das eleições para o Senado consideradas cruciais para os conservadores no poder, e num momento no qual a popularidade de Abe está em queda. Os eleitores criticam o governo de Abe pela falta de perícia na gestão dos temas sociais, assim como por uma série de escândalos de corrupção e erros que resultaram na demissão de dois conselheiros do premier.Matsuoka fez quase toda sua carreira no ministério da Agricultura e era deputado desde 1990 pela circunscrição sulista de Kumamoto.

SE ESSA MODA PEGA NO BRASIL?

FONTE: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,AA1549872-5602,00.html

domingo, 27 de maio de 2007

"Na Guerra da transpoição não há inocentes"


Hoje, uma moderna leitura do que seja o semi-árido, baseada em novas avaliaçõescientíficas da realidade e na experiência concreta que vem se acumulando emdécadas de trabalho realizado pelos autênticos movimentos sociais junto a suas bases, indica que essa região é tão viável como qualquer outra do planeta,desde que se desenvolva uma cultura adaptada às suas características. Para nós,dos movimentos sociais, esse novo modelo de desenvolvimento se chama`convivência com o semi-árido`.Para se entender o sertão nordestino nos dias de hoje é preciso um olhar com outros óculos. Hoje se fala em semi-árido brasileiro, já que nem todo Nordeste está no semi-árido e ele vai além do Nordeste, como Norte de Minas. Já não nos bastam os velhos chavões cunhados há séculos atrás. Também preferimos aexpressão `sertão`, porque ela traz consigo uma identidade cultural. Dialogar com quem quer opinar sobre essa região, mas desconhece esses novos conhecimentos e práticas, tem sido uma tarefa e um desafio cada vez mais árduos. Porém, superar este desafio e realizar esta tarefa é uma exigência
fundamental, afinal, existe uma `indústria da seca`, que vive da miséria popular, nela constrói seu poder político e sua fortuna privada e precisa continuamente difundir conceitos equivocados sobre esta linda região brasileira.
O semi-árido brasileiro, com quase um milhão de km2, praticamente se confunde espacialmente com o bioma caatinga. Se é um semi-árido, significa que tem uma pluviosidade entre 300 e 800 milímetros por ano e um solo que não é deserto em sua composição. Vale lembrar que a pluviosidade média é de 750 milímetros por ano, embora variada no tempo e no espaço, o que significa a precipitação de aproximadamente 750 bilhões de metros cúbicos de água todos os anos sobre o semi-árido. Essa precipitação é segura. Por isso, ele é o mais chuvoso e mais populoso entre os biomas do gênero do planeta. O que falta à população é o acesso a uma capacidade de infra-estrutura capaz de guardar essa água dos tempos chuvosos para os tempos que não chove. Esta é uma tarefa do Governo. De toda essa água que cai, temos infra-estrutura para armazenar apenas 36 bilhões de metros cúbicos. Os restantes 720 bilhões se perdem para o mar ou pela evaporação. Assim também deveria ser com os alimentos para animais e para seres humanos. Feita essa adaptação cultural, de infra-estrutura, o sertão não seria a miséria que é. Só no meio rural temos uma população de quase 12 milhões de pessoas, quase 30 milhões no total. O semi-árido tem duas estações bem definidas. Uma com chuva e outra sem chuva. A
caatinga não morre no tempo sem chuva, mas adormece, hiberna. Na primeira chuva tudo floresce. O período seco faz parte do ciclo natural e a natureza já se adaptou a ele. Uma leitura equivocada desse fenômeno natural é mortal para o desenvolvimento de políticas de convivência com a região, seu clima e seu bioma. Portanto, a leitura moderna do semi-árido recusa a leitura clássica da região seca, miserável, inviável. O sertão tem água, é bonito e tem viabilidade. Inviável é a classe política e o modelo de desenvolvimento que nele se aplica há séculos.
Acontece que ele – o sertão – é uma construção social, política e cultural. Não há como entendê-lo sem que seja lida sua história de dominação política histórica e cruel, através do coronelismo antigo e das modernas oligarquias baseadas no agro e hidronegócio.

A seca como mito

Como sustentar a indústria da seca senão existir a seca? Não pensem a indústria da seca como apenas a do carro-pipa. Esse é seu primo pobre. A principal é a das grandes obras feitas em nome do povo, mas que enriquecem uma elite restrita e privilegiada. Esse é o dilema em que se encontra a nova oligarquia Nordestina, justamente quando ela propõe a maior de suas obras, que transita da indústria da seca para o agro e hidronegócio no Nordeste, isto é, a transposição do rio São Francisco.
Primeiro conseguiram dividir o semi-árido em dois, como se os problemas e desafios fossem apenas do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Insistem em ignorar que Bahia, Sergipe, Piauí, Alagoas, Maranhão e Norte de Minas têm os mesmos desafios. Esquecem ainda que a região mais pobre de água do Brasil – embora ainda esteja num nível suficiente segundo padrões da ONU – é o sertão pernambucano. Portanto, pasmem, a região mais pobre de água do Brasil encontra-se no Vale do São Francisco. Segundo, se recusam em admitir os dados que indicam água suficiente em todos os estados para abastecer suas populações. O problema não é de água estocada, é de democratização da água existente. Não é só o açude Armando Ribeiro que
desperdiça água no Rio Grande do Norte. O açude Santa Cruz, com 600 milhões de m3 armazenados, não tem uma única gota de sua água chegando a alguma cidade, a alguma comunidade, a alguma família, a alguma pessoa. Sua única serventia é passar dentro de Mossoró e escoar o esgoto da cidade até o mar. Em terceiro, se recusam em admitir que o semi-árido precisa de outro modelo de desenvolvimento e de manejo da água, onde as populações mais pobres sejam empoderadas, não o capital de sempre, seja ele atrasado ou moderno. Portanto, a
transposição tem um corte de classes que não pode ser ignorado, ao menos por aqueles que se reivindicam marxistas.

O mito da irrigação

Pessoas costumam ir a Juazeiro/Petrolina e se encantar com o que vêem; isto é, a produção de frutas irrigadas (praticamente reduzidas hoje à uva e manga) e com o verde das áreas irrigadas. Costumam propor essa vitrine como modelo para o resto do Nordeste. Porém se esquecem, ou desconhecem, que os estudos da Embrapa indicam que apenas 5% dos solos do semi-árido são irrigáveis e existe água para irrigar apenas 2%. Portanto, 95% do semi-árido serão sempre semi-árido. Ainda mais, a agricultura de sequeiro, juntamente com a criação de animais de pequeno porte, embora abandonada, é quem põe a mesa do nordestino. O feijão, mandioca, a
carne de bode, de galinha, etc., tudo vem da agricultura familiar de sequeiro, não da irrigada. Por mais saborosas que sejam, ninguém vive de chupar manga e uva. Se a irrigação tem um papel, ele sempre será restrito e jamais generalizável. Pior ainda, querem levar água a milhares de quilômetros para promover a agricultura irrigada, quando os colonos da beira do São Francisco estão inadimplentes nos bancos justamente porque não podem pagar a água e os custosfixos de sua adução até seus lotes. Um pouco de informação, de honestidade intelectual, e não se diria tantas inconsistências que se têm dito em nome do povo.

O mito da transposição para acabar com a sede
Questionado pela CPT sobre o fato do marketing da transposição sustentar que vai acabar com a seca do Nordeste, mesmo sabendo que a transposição vai atingir no máximo 6% do semi-árido, e, portanto, 94% vão ficar de fora, Ciro Gomes - numdebate na Universidade Federal Fluminense - respondeu: `Eu nunca disse isso. Quem diz isso é o PT e eu não sou do PT`. Ainda mais, segundo o próprio projeto da transposição, a destinação da água é de 4% para a população rural, 26% para o meio urbano e 70% para atividades agrícolas. Interrogado sobre as propagandas que estavam sendo veiculadas na TV em defesa da transposição, afirmando o
citado acima, ele reagiu transferindo a responsabilidade, ou irresponsabilidade, para o PT. Portanto, há que se acabar com esse mito cruel, que suscita expectativa nas pessoas pobres, mas que não tem fundamento na realidade. Para acabar com a sede do Nordeste, no meio urbano, basta implementar as obras propostas pela Agência Nacional de Águas em seu `Atlas do Nordeste`. São aproximadamente 530 obras, que alcançam 1112 municípios acima de 5 mil habitantes, beneficiam 9 estados do Nordeste mais o Norte de Minas, solucionando o problema de 34 milhões de pessoas. Para o meio rural nada apareceu de melhor que as obras propostas e que estão sendo implementadas pela Articulação do Semi-árido (ASA). São aproximadamente 40 tecnologias, particularmente a cisterna de placas para captação de água de chuva para consumo humano, que já beneficiam aproximadamente 200 mil famílias. Agora vai começar o projeto `Uma Terra e Duas Águas`, onde junto com a segunda água, para produção, deveria vir também a terra. É uma luta, mas perfeitamente na lógica da convivência com o semi-árido, não da sua depredação e desertificação. Ultimamente, depois que saiu o Atlas hídrico do Nordeste, o governo, encurralado no seu discurso, tem dito mais claramente que a transposição `tem finalidade econômica`, enquanto o Atlas tem a finalidade de `abastecimento humano`. Portanto, seriam complementares, não antagônicas. Ocorre que o argumento governamental até agora, em defesa da transposição, foi a pretexto de saciar a sede de 12 milhões de pessoas. Os movimentos sociais autônomos e a CPT sempre insistiram com o governo e com a opinião pública paraque a verdadeira intenção fosse explicitada, afinal, debateríamos o projeto no seu verdadeiro propósito. Além do mais, os 26 m3 solicitados foram em nome do abastecimento humano, já que o comitê da bacia do São Francisco autorizara apenas para esse fim. Portanto, o governo precisou mentir anos a fio para poder levar seu projeto a frente. Agora não tem mais como insistir na mentira. Em segundo, a prioridade da Lei Brasileira de Recursos Hídricos no uso das águas é `o abastecimento humano e a dessedentação dos animais`. Portanto, entre uma obra com finalidade econômica e um conjunto de outras para saciar a sede humana, o governo estaria obrigado por lei a priorizar as obras do Atlas.

Qual é o problema ambiental?

O Ibama, o Ministério do Meio Ambiente e da Integração se dão por satisfeitos com o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) produzido, embora a maioria dos impactos seja negativa. Nosso problema é de outra ordem. Nossa discordância é que simplesmente não foi feito nenhum estudo de impacto ambiental na calha do rio São Francisco, mas apenas da tomada de água para frente. O governo diz: `26 metros cúbicos não vão ter impacto algum na calha`. Nós respondemos: `quem garante se não foi feito nenhum estudo?`. Essa é a questão ambiental chave. Em tempos normais é provável que realmente o impacto seja pequeno, porém, como o rio varia de picos de cheias para deplecionamentos assustadores – como no ano do apagão – seria necessário estudar realmente o impacto da obra na dinâmica do rio. O governo se recusa, mas nós não temos como fechar os olhos para essa lacuna, já que convivemos com o rio e sabemos de sua situação dramática.

Reforma Agrária: as pedras para o povo
Um bom marketing da transposição exigia uma satisfação aos críticos de sua concentração de terra e água, por conseqüência, de poder. Como resposta, o governo acena com assentamento de reforma agrária ao longo dos canais da transposição. É um presente de grego. Ali o cristalino está à flor da terra. Em outros termos, é pura pedra, salvo pequenas manchas férteis. Enquanto oferecem essas terras para assentamentos, o grande capital já se movimenta no vale do Apodi (Rio Grande do Norte) e ao longo dos canais na Paraíba, procurando o povo para adquirir suas terras. Os pequenos agricultores do Apodi e da Paraíba estão preocupados com seu próprio destino. Não é para menos. Em Juazeiro e Petrolina, os pequenos proprietários foram postos de fora, perderam suas terras para os empresários estrangeiros, do sul e do sudeste. Hoje formam um exército de mão de obra barata na cana e na fruticultura irrigada, morando nas periferias dos perímetros irrigados ou nos bairros periféricos das duas cidades. O que se desenha para o futuro está evidente: grandes volumes de água e melhores solos para os empresários do agro e hidronegócio. Para o povo, as pedras.

A criação do primeiro mercado de águas no Brasil

Muitas vezes se sustenta essa transposição a partir de outras feitas no mundo. Dizem que há bem sucedidas e mal sucedidas. Porém, muitas vezes é preciso perguntar para quem elas são bem ou mal sucedidas. A transposição do Colorado é citada como positiva pelo mundo do agronegócio, mas um desastre para indígenas dos Estados Unidos e para o povo mexicano no Golfo do México. O Mar de Aral, na Rússia, virou um deserto de sal. Em nosso caso de transposição, caso seja feita, vai possibilitar a criação do primeiro mercado de águas no Brasil. É um velho sonho de uma elite cearense, impulsionada pelo Banco Mundial desde o governo de Fernando Henrique. Quando a empresa da Chesf vender água para as empresas receptoras, ela cobrará pela água. O mesmo vão fazer as empresas receptoras para vender a água para as demais empresas interessadas (saneamento, irrigação, indústria, etc.). Até essa água chegar ao consumidor final, ela passará por vários acréscimos em seu valor. O povo vai pagar a conta dessa água. Portanto, pela mão do gato, estará criado o primeiro mercado cativo das águas brasileiras. De alguma forma, estará também estabelecida a primeira privatização dos grandes volumes de água no Brasil, funestamente na região onde a água deveria ser mais que nunca preservada como um bem público.

Resistir e propor
No mundo contemporâneo, onde existe a crise da água, provocada pelo uso irracional e predador, principalmente na agricultura irrigada (70% na média doconsumo mundial), se impõe uma nova cultura da água, mudando parâmetros e valores. Há um conflito mundial aberto sobre esses novos rumos. Há os que insistem em seu uso predador, na sua privatização, na sua mercantilizaçã o, aberta ou sutil. Há aqueles que querem um novo manejo da água, que permaneça como um bem público, fora das regras do mercado. No Brasil, esse conflito se traduz de forma cristalina na transposição do rio São Francisco. É preciso saber de que lado estamos. O triste é ver setores vinculados a entidades de trabalhadores e ONGs pretensamente defensoras da água, articulando os interesses das classes dominantes. Nessa guerra ninguém é inocente.

FONTE: Marina dos Santos, Roberto Malvezzi e Temístocles Marcelos (jornalistas)
Extraído da revista `Carta Capital`, de 11.05.07

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Uma ajuda da mãe natureza

Mistério da grande conquista de Alexandre é revelado



A ilha cidade de Tiro era considerada inconquistável até que Alexandre, o Grande, marchou por sua ponte. Os pesquisadores agora revelaram que os conquistadores, na verdade, tiveram uma pequena ajuda -da mãe natureza.

A cidade libanesa de Tiro, uma das cidades mais antigas do mundo ainda existentes, se encontra sobre os resquícios de uma antiga batalha militar sangrenta e peculiar. Em 332 a.C., o conquistador macedônio Alexandre, o Grande, devastou a rica cidade mercantil, que na época era considerada inexpugnável no topo de uma pequena ilha rochosa. Hoje, Tiro se projeta da costa libanesa em uma faixa de terra em forma de língua, com os dias de refúgio em ilha deixados há muito no passado.

O cerco é famoso não apenas por sua importância estratégica e histórica -a captura da cidade foi chave para a conquista do império persa por Alexandre- mas também pelo feito de engenharia que deu a vitória para Alexandre.

A certa altura durante seu cerco de sete meses a Tiro, Alexandre construiu uma ponte de madeira e pedra de quase um quilômetro de extensão para chegar do continente à ilha. Mas permanecia um mistério a forma como um exército de soldados parcamente equipados conseguiu construir uma via atravessando vários metros de mar profundo. Os pesquisadores agora acreditam que Alexandre, o Grande, teve alguma ajuda da mãe natureza.

Nick Marriner, um geoarqueólogo francês, analisou os sedimentos de terra que atualmente ligam Tiro à costa libanesa. "Nós encontramos vários fragmentos, ladrilhos cerâmicos e pedaços de madeira", disse Marriner para a 'Spiegel Online'. "Mas não havia prova de que eles foram usados na construção". Os pesquisadores também encontraram várias conchas de um certo tipo de mexilhão no sedimento, existentes em abundância nas águas costeiras rasas. Os pesquisadores concluíram que a elevação do nível do mar encolheu a ilha com o tempo, deixando as áreas recém-cobertas como lagoas salobras.

Enquanto Tiro tinha aproximadamente seis quilômetros de largura há 8.000 anos, ela encolheu para cerca de quatro quilômetros nos 2.000 anos seguintes, relatou Marriner em 'Proceedings of the National Academy of Sciences USA'. O pesquisador concluiu que as partes recém submersas da ilha tornaram difícil para as ondas atingirem a costa. Como resultado, o sedimento da costa acumulou no espaço entre a ilha e o continente, deixando uma ponte arenosa bem abaixo da superfície da água, sobre a qual Alexandre, o Grande, pôde construir sua estrada para uma vitória histórica.

Tradução: George El Khouri Andolfato


segunda-feira, 14 de maio de 2007

Marco Polo às avessas


Em obra recém-lançada, o crítico Pankaj Mishra mostra como os indianos lidam com as influências ocidentais no dia-a-dia

ANGELO SEGRILLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O tema do encontro (choque) entre Ocidente e Oriente fascina as imaginações desde as guerras entre gregos e persas, passando pelo colonialismo, até hoje.
Nos tempos atuais de globalização e possibilidade de a China ultrapassar economicamente os EUA em poucas décadas, o assunto se torna inescapável.
Pankaj Mishra é uma espécie de Marco Polo às avessas: um "oriental" que observa o(s efeitos do) Ocidente no próprio Oriente.
Ele é um relativamente jovem (menos de 40 anos) crítico literário e ensaísta hindu que vem adquirindo fama com um estilo peculiar. Seus livros mesclam narrativas de viagem com ensaios filosóficos sobre as sociedades abordadas.
"Tentações do Ocidente - A Modernidade na Índia, no Paquistão e Mais Além" [ed. Globo, trad. Helena Londres, 440 págs., R$ 39] é uma antologia de textos anteriores seus que se passam na Índia, no Paquistão, Afeganistão, Nepal e Tibete.

Dilemas
Neles o tema subjacente é o dilema que têm esses povos milenares para se modernizar.
O que devem preservar e o que devem mudar?
A escolha se torna ainda mais difícil quando se nota que o próprio termo modernização tende a tornar o Oriente uma espécie de refém do Ocidente.
Modernização é muitas vezes definida praticamente como ocidentalização, ou seja, transformar-se na mesma direção pela qual passou o Ocidente (com urbanização, industrialização, secularização etc.).
Mishra rejeita a idéia de que povos muito mais antigos que os europeus atuais devam simplesmente se refazer à imagem destes. Mas não idealiza o Oriente. Ao contrário, expõe as imensas contradições e mazelas existentes nele.
O maior valor do livro talvez não esteja no grande quadro, mas nos pequenos detalhes. Afinal, esta não é uma obra de sociologia ou história, e sim de histórias.

História em detalhes
Os efeitos da globalização sobre aqueles povos são mostrados por meio das histórias de pequenos personagens concretos que Mishra vai encontrando ao longo de suas andanças: Rajesh, o hindu brâmane decaído que protege o autor em seus anos estudantis; Mallika, a atriz de Bollywood (a "Hollywood" de Mumbai) em dúvida sobre quanta sensualidade poderia mostrar nos pudicos filmes indianos; Jamal, o adolescente muçulmano em processo de decisão para tornar-se um militante da jihad violenta; J. Norbu e L. Tsering, exilados tibetanos que criticam a moderação da oposição não-violenta do dalai-lama à ocupação chinesa no Tibete etc.
São essas descrições da vida cotidiana desses povos (às quais temos pouco acesso na literatura publicada no Brasil) que provavelmente trarão os insights mais instigantes ao público brasileiro.
Os detalhes de como funciona o sistema de castas no dia-a-dia da Índia atual, da mentalidade do tibetano budista comum diante da modernização forçada trazida pelos chineses, dos encontros de jihadistas do mundo inteiro em pequenas cidades do Paquistão e Afeganistão se tornam mais vívidos quando ilustrados em situações concretas.
Apesar do acesso bibliográfico limitado, talvez o público brasileiro possa entender melhor algumas das realidades narradas no livro do que americanos e europeus. Afinal, quando Mishra visita uma favela indiana sem água corrente, mas com televisão e celular, ou quando mostra que na Índia "grande parte da juventude, sem perspectiva de emprego, tem a fixação por empregos públicos como sua salvação" ou que "o movimento para cotas em empregos e universidades para os "dalits" está enfrentando oposição acirrada entre as castas superiores", um brasileiro identifica rapidamente do que se trata.
Sem esperar que Mishra seja um guru, dando resposta definitiva para a questão crucial ("como devem os povos da Ásia se modernizar?"), as histórias/ensaios do livro se revelam importantes para entender o continente que hoje parece representar tanto o mais impressionante passado quanto o mais impressionante potencial de futuro.

ANGELO SEGRILLO é professor de história contemporânea da Ásia na USP, autor de "Rússia e Brasil em Transformação" (ed. 7Letras) e "O Declínio da URSS" (ed. Record).


Artigo disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1305200717.htm>.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Pérolas de Clodovil Hernandes


"Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor-de-rosa choque. O vencedor nessa campanha não foi o Maluf, nem o Russomano. Fui eu."

"R$ 30 mil é tão pouco... Se ainda fossem uns US$ 30 milhões... Por R$ 30 mil vender um país, você está louco. Cada um pesa o dinheiro na sua balança. E a minha precisa de muito."

"Não vou me sujar por pouco. Vou me sujar por alguns milhões de dólares, é claro. Pego esses milhões de dólares e faço a benemerência que eu quiser. E dane-se a retranca. Não tenho filho, não tenho amante, não tenho mulher, não tenho nada. Isso não é desonestidade. Isso é oportunidade."

"Tudo que me mandarem, eu faço. Em curral alheio, boi é vaca."

"Não tenho medo de ninguém. Sou feito cachorrinho. Passa a mão nas minhas costas que eu já abano o rabo".

“Eu não vou me meter a fazer leis, porque não sei fazer isso. Eu sei avaliar se ela é boa ou ruim. Mas isso não é a minha proposta. Minha proposta é transformar o poder numa coisa boa e útil para todos nós."

"Se você não votou em mim, não pode me cobrar nada. Eu vou fazer do jeito que eu sei. Eu não sou político de profissão”.

"Já sei que vou ser assediado o tempo inteiro em Brasília, porque as pessoas pensam que eu sou um idiota, que vou lá fazer frescura na Câmara. Não. Viver é um ato político.”

"Evidente que foi (armado o ataque contra as torres gêmeas) pelos próprios americanos, não seja idiota, é como o holocausto, você acha que não tinha nenhum judeu manipulando isso por debaixo do pano?."

"Fala para ele que na próxima eleição, quando me candidatar de novo, vou fazer o possível para ter menos votos para ele não implicar comigo. Se eu pudesse, dava meus votos para ele não ficar tão triste, mas não posso fazer isso."

Não satisfeito com estas preciosidades, nosso exêntrico representante da câmara federal expôs mais uma das suas, que ao meu ver é a mais brilhante de todas:

"As mulheres ficaram muito ordinárias, ficaram vulgares, cheias de silicone e hoje em dia as mulheres trabalham deitadas e descansam em pé. A gente não pode concordar com esse tipo de coisa"

Parabéns Deputado, Vossa Excelência esta fazendo jus aos seus honorários.
E ainda dizem que o Brasil é o país do futuro!
Viva a Democria!

quarta-feira, 2 de maio de 2007

1o de Maio Dia de Luta


As origens do 1° de maio se relacionam com a proposta dos trabalhadores organizados na Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) de declarar um dia de luta pelas oito horas de trabalho. Também conhecida como "Primeira internacional", foi fundada em Londres, sob influência das idéias de Karl Marx. Porém foram os acontecimentos de Chicago, de 1886, que vieram a dar-lhe o seu definitivo significado de dia internacional de luta dos trabalhadores.
Nos Estados Unidos a classe operária era formada principalmente por imigrantes europeus, alemães, tchecos, irlandeses e de outras nacionalidades. A exploração do trabalho operário soma-se à exploração do imigrante, daquele que é considerado um não cidadão e, portanto, sem qualquer tipo de direitos. Foram essas condições que estimularam o desenvolvimento do movimento sindical no país. Grande parte dos operários era influenciada pelos ideais socialista ou anarquista.
As incipientes organizações operárias passaram a reivindicar dos patrões o respeito à lei, o fim do trabalho infantil e, principalmente, a redução da jornada para oito horas diárias e quatro horas aos domingos.
Na segunda metade do século 19 a organização sindical conheceu aumento expressivo e se processou de forma autônoma, independente do Estado e muitas vezes, contra o Estado. A proposta das 8 horas de jornada máxima, tornou-se um dos objetivos centrais das lutas operárias, e se tornou o eixo principal de reivindicação dos trabalhadores, tema de maior destaque na imprensa alternativa que se desenvolveu, formando a cultura operária durante décadas em que foi importante fator de mobilização. Ao mesmo tempo a luta pela redução da jornada de trabalho foi responsável por violenta repressão e marcada por prisões e morte de trabalhadores.
Apesar da pressão de governo e patrões, foi criada, nos Estados Unidos, em 1885, a Federação dos Grêmios e Sindicatos Operários, comandada por lideranças operárias inspiradas por idéias anarquistas ou socialistas. Sua primeira resolução foi convocar uma greve geral em todo o país para o dia 1º de maio de 1886, tendo como eixo a redução da jornada de trabalho. Em diversas cidades dos EUA a paralisação, principalmente na região nordeste, reuniu milhares de trabalhadores e foi acompanhada por comícios, sendo alvo da repressão policial.
Em Chicago a adesão à proposta da Federação foi massiva e cerca de 400 mil operários das fábricas cruzaram os braços. Aparentemente surpreendidos patrões e governo deixaram que o movimento transcorresse pacificamente. A repressão se inicou no dia seguinte e a partir de então foi marcada por fortes conflitos envolvendo a polícia, capangas de empresas e o própria justiça de Estado.
No dia 2 de maio, domingo, a polícia entrou em choque com os grevistas numa pequena cidade vizinha de Chicago, deixando um saldo de nove mortos.
No dia 3, os grevistas dirigiram-se à fábrica MacCormick, a única indústria da região que funcionava, pois os trabalhadores haviam sido demitidos e substituídos por desempregados fura-greves. Além disso, os empresários haviam contratado 300 agentes da Pinkerton para protegê-la. Os trabalhadores reagiram fazendo comícios do lado de fora dos portões, e mais uma vez houve confronto com a polícia, que disparou, provocando seis mortos e uma centena de feridos.
Ao mesmo tempo em que aumentava a repressão, aumentava o vigor da greve a o estado de ânimo dos trabalhadores. Um dos líderes da greve, o anarquista August Spies, convocou para o dia seguinte, dia 4 de maio, um ato público contra a repressão policial na Praça do Mercado de Feno, centro de Chicago, que reuniu cerca de 15 mil pessoas e foi cercada pela polícia, fortemente armada. Quando o último orador, Samuel Fielden, iniciava seu discurso, o chefe de polícia exigiu que ele descesse do palanque e enquanto discutiam, uma bomba explodiu entre os policiais, matando oito homens. A polícia revidou, abrindo fogo e provocando a tragédia: 80 operários foram assassinados e mais de uma centena ficou ferida no massacre de Chicago.